sábado, 22 de dezembro de 2007

Perestroika

Existem concursos muito estúpidos, mas o mais surreal é que existem pessoas que os procuram na esperança de ganharem o el dorado. Conheço um bacano, gajo porreiro, aliás, muito maneiras, que tem faro para este tipo de cenas. Uma vez, em pleno 4 Caminhos, ganhou uma t-shirt de uma rádio local porque acertou na música da Maria de Lisboa que estava a tocar. Após esse sinal, que demonstrava que tinha queda para concursos, andou mais de 6 meses com o Frei Luis de Sousa (a obra de Almeida Garret, não o Frei, em pessoa) na mochila na esperança que o abordassem com a seguinte questão:

- "Tem o Frei Luis de Sousa, edição Europa-América, consigo? Se for o caso, você é o feliz vencedor de bué infinitos milhões de guita!!!! (guíta aqui como sendo dinheiro e não um bocado de corda mal feito, nem mesmo um sócio nada maneiras, tipo girafa, sem vida e vontade própria que habitava no liceu local e que um dia levou porrada mesmo após ter lanchado várias vezes em casa do seu agressor)"

Mesmo tendo algum sucesso em concursos desta natureza a dita abordagem nunca foi feita. Há quem diga que fez mal os cálculos, pois foi várias vezes questionado se teria consigo os dicionários de Latim-Português e Português-Latim, mas pela sua professora. Como a resposta era sempre negativa nunca teve grande sucesso nesta disciplina.

Certo dia, já descrente da sua imagem de Gastão sortudo, foi abordado na rua para tentar acertar qual o russo mais famoso do mundo. Era um concurso caído do céu. Era uma resposta de escolha múltilpa. Teria que optar por Ivan Danko ou Ivan Drago (vide imagem em cima). Seriam eles irmãos, questionou com astúcia, já que eles tinham o mesmo nome? A verdade é que não pensou muito. Virou-se para a menina que o interpelou e disse:

-" O russo mais famoso que eu conheço? Não é nenhum desses dois. E aposto que todos nesta rua lhe vão responder o mesmo."

Virou costas e bazou sem sequer se preocupar se tinha perdido o concurso.

ps: sei que estão curiosos em saber qual é o russo mais famoso da rua. Terão que aguardar por 2008. Comam as doze passas e formulem esse desejo. Se o fizerem eu voltarei com a resposta. Stay e behave.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Um Feliz Natal e umas Boas Entradas


Não, não estou a falar de entradas (falta de cabelo na testa recuada, tipo pista de aterragem) ou de entradas (gambas al alhinho...). Falo mesmo de umas boas entradas no novo ano. Por este dias, na cidade, é comum irmos na rua e aparecerem amigos e companheiros de outrora que nos desejam: "Eh pá! Umas boas entradas!" ou o mais vulgar "Entra bem" ou "Entra com o pé direito, ou com os dois pés"...
Enfim, à parte destes pormenores do burgo, queria aqui exprimir os meus votos de um grande Natal para os estimados leitores. Este deverá ser um dos primeiros natais em que não vou beber no dia 24 um Favaios na Cervejaria A. com o meu amigo G. que anda por esse país longínquo chamado "Estrangeiro" onde se fala "Estrangeiro", língua que o G. domina na perfeição!
Por isso deixo uma imagem do Favaios. À vossa saúde!
Feliz Natal e umas Boas Entradas!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Hey, CJ! Não ponhas a tocar essa canção pra mim!

Não. Não vou falar nem da Baywatch nem sequer das idas à praia de Carcavelos logo após a realização das provas globais ou dos exames nacionais. Não vou, desculpem. Não vale a pena tentar. Podem relembrar-me das numerosas rasteiras que faziamos às nossas colegas, das bolas de areia, tipo "bomba", que lhes atirávamos sem piedade e, até mesmo, dos croquetes gigantes em que as tornávamos, logo após "o último banho do dia". Mesmo assim, não vou falar nisso.
Desta forma, a foto em anexo serve para chamar a atenção mas também para enquadrar a temática deste post, a nossa conterrânea, C.J.
Quem privou com ela, mesmo aqueles que não tinham a certeza, sabe que entre a nossa CJ e a da foto, há poucas semelhanças. Talvez a única coisa em comum entre ambas, é que nenhuma delas foi à praia comigo.
CJ deixou um legado fraquito na nossa memória mas ensinou-nos que as relações entre as pessoas não deveriam ser complicadas. Para ela, não há necessidade de se conhecer, minimamente, alguém para se conviver com essa pessoa. O seu pensamento era simples: "Uma pessoa, uma turma, um liceu, o Mundo, um Ser (seja ele qual for e qual a sua natureza), pode, devido à sua simples existência, ir à minha festa de aniversário. Eu sei que haveremos de ter algo em comum. Se por acaso não tivermos nada em comum sempre é mais uma prenda quida que recebo". No seguimento desta lógica, assisti a uma selecção criteriosa de convidados para mais um feliz aniversário de CJ, que passo a citar:

CJ - Olá, tudo bem? Vens à minha festa no sábado, no chinês do Jôta Pimenta?
Tuts Figas Cospe Fogo - Queria muito, mas não vai dar.
CJ - A sério, porquê? Era tão importante para mim que fosses...
T.F.C.F. - Sendo assim...
CJ - Pois, porque com 200 jantares, os chinezinhos oferecem 2 e uma garrafa de água ardente de lagarto só com 5 meses fora do prazo. O lagarto já quase em jacaré.
T.F.C.F. - É que vou jantar com a minha namorada que mora no Cacém e estuda em Benfica e só a vejo ao fim de semana.. Tu és importante, mas talvez me safe com uma esféfia, percebes?
CJ - Mas ela vem também!
T.F.C.F. - Népia, vocês nem se conhecem.. Ela ia ficar à nora.
CJ - Ela mora no Cacém. Estuda em Benfica, certo? E desloca-se de comboio?
T.F.C.F. - Confere.
CJ - Passa, por dia, em Queluz-Massamá e Queluz-Belas, pelo menos 4 vezes.
T.F.C.F. - Sim, e?
CJ - Há muito Queluz na vida dela!! Quase aposto que vamos ser grandes amigas. Tá decidido, até vai ficar na mesma mesa que o Capitão Robi.
T.F.C.F. - O Jorge Veríssimo Monteiro? Aquele que tem uma "cauda" de 27,5 cm?
CJ - Cauda? Pensava que era um cachecol..
T.F.C.F - O que tens tu em comum com ele?
CJ - É que eu tenho casa na Coina e ele já lá foi.
T.F.C.F. - À tua casa?
CJ - Não, à Coina. E gostou muito. Diz que ainda espera lá voltar, pois só por uma vez esteve todo lá dentro.
T.F.C.F. - Pudera... com 27.5cm de marro..
CJ - O quê? Não percebi, falaste baixo.
T.F.C.F. Nada, tava a dizer que tá combinado. Fica bem.

Da festa em questão reza a história que foi de arromba, sendo mesmo eternizada numa canção de Joaquim Barreiros, o famoso cancenotista ligeiro português:

"Fui aos anos, fui aos anos
Coisa boa essa festança
Conheci novas amigas
E depois foi sopa e dança."

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Mas há alguém que sabe alguma coisa de futebol?

Enquanto via o Portugal-Finlândia e me vomitava com o chorrilho de pseudo-estatísticas que os comentadores debitam hoje em dia nos jogos de futebol - estatísticas sem qualquer interesse nem sentido - lembrava-me desse grande personagem que é Gabriel Alves. Recordei com alegria as suas sentenças - "Michael Thomas, grande jogador, fã de Robert de Niro"; "Está nesta noite mais de 100% de humidade relativa" - e pensei que podia escrever algo sobre o futebol na nossa cidade. Mas eu que nunca passei de um mero Vidigal, conhecido como "Vide", pensei então deixar aqui um desafio ao Maradona e ao Caleja, para que nos recordem as histórias do Sabuga, do Gomes, do Pélé, do Júnior, etc. - todos eles marcas inolvidáveis do nosso passado. Posso contar com vocês?

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Fatto l'amore con Control


Para ser sustentável o seu governo, uma grande cidade tem que ter ordem.
A nossa cidade tem uma ordem camuflada mas que todos que nela habitam reconhecem. Tal como existe em Itália, Nova Iorque e na zona de Amarante, aqui também existe a famosa Máfia. Podemos não ter uma equipa na 1º Liga de Futebol, ou mesmo um "Diamante Negro" ou "Calor da Noite", mas temos um Capo que zela por todos nós, garantido a nossa segurança e autonomia face às várias ameaças externas. Que ameaças? "Vocês sabem de quem é que eu estou a falar..."

Dom Fabri
é o chefe do nosso burgo. Descendente dos famosos sicilianos Fabrizios, herdou da sua Mamma, esta bela localidade, tendo aqui os seus negócios e pacata vida. Escondido num nome mais indígena, Paulo (mostrando, desta forma, uma bonita aculturação), é frequente vê-lo a passear (vigiar) nas nossas ruas, cumprimentando e ser cumprimentado por quem, honradamente, o respeita, bem como entrando em establecimentos comerciais para reclamar, de forma pacata, o seu merecido pagamento em troca da paz que oferece.
A sua figura, por si só, transmite tranquilidade e calma, tal como o seu sorriso estático que facilmente nos comove.
É um homem abastado, com posses, mas que não promove a ostentação e o despesismo. Respeita o menos afortunado monetariamente.

Para mim, houve três momentos em que se revelou acima do comum dos mortais:
- quando passeava com seu tijolo (20x10cm) topo de gama amarrado à cintura, havendo mesmo quem dissesse que dava para receber e fazer chamadas telefónicas;
- quando, numas festas locais, dançou (sem nunca largar o tijolo da cintura que, de certa forma, o equilibrava) com uma lânguida Micaela, ao som do "Chupa no Dedo". Recordo que a Micaela estava, como é óbvio, muito nervosa com a sua presença;
- quando participou no filme Titanic ao lado de Di Caprio. Convidado por James Cameron, aceitou um relevante papel dando o seu nome ao da personagem, conseguindo, desta forma homenagear a sua familia que cedo saiu da pátria-mãe em busca de glória em partes longínquas e desconhecidas.

Esta homenagem que Hollywood lhe prestou colocou-o à frente da lista dos três melhores actores que o nosso feudo deu ao Mundo. Agora, atrás dele, encontram-se o Rocha (Duarte e Companhia, Arre Potter que é d'mais!, Há Revista no Parque, Queres Fiado? Toma!, entre outros) e o, não menos talentoso, Hitesh, que se revelou com a sua comovida performace da Eneida, no Anfiteatro da ESPAN, estando aínda hoje nos meus ouvidos o seu grito por "Cartago!!!Cartago..."

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Do céu ao inferno

Os estimados leitores pensarão decerto que andei por alguns retiros espirituais para, depois de tanto tempo de silêncio, vir agora para aqui com estes títulos manhosos... Posso-vos garantir que não. E até digo mais. Estou irritado comà merda.

[Faço aqui um pequeno excurso para me referir às capacidades infinitas que o "como" tem na Língua Portuguesa: é boa comó milho; é grande comó caralho; tá rico comàs putas; enfim... Reparem que utilizei sempre formas contraídas, o que demonstra uma evolução e uma riqueza da linguagem que não é fácil de encontrar noutros idiomas europeus, ou pelo menos, nós não os conhecemos...]

Dizia que a irritação se apoderou do meu ser. E razões? Pois bem. Acontece que queria escrever sobre as famosas Botas Jimmy Doyle, e como através deste precioso calçado, podemos ver um pouco das flutuações espirituais da juventude que calcorreava a nossa "rua sem fim"; mas, depois de largos minutos no Google, não consegui encontrar uma única foto de um par dessas famosas botifarras...

Para ir depressa, que a prosa já vai longa, não importará aqui conhecer percursos individuais. Importa sim dizer que estas botas estiveram presentes nas fases techno, metal-satanica e "simplesmente chunga" da nossa geração. E houve gente para tudo. Para começarem como pastilhados e acabarem a adorar o Satã. Para começarem como meninos da catequese e acabarem com um dizer na mochila do tipo "Jesus is a Cunt".
Vejamos:
Na fase techno estas botas foram ridículas, pois não devia ser nada confortável dançar até de madrugada a alombar com aqueles mastodontes... Só mesmo drógados...
Na fase metálico-satanica, estas botas estavam relativamente bem adequadas ao perfil monolítico e cro-magnon dos seus membros mais dedicados. Combinavam sempre bem com uma cruz invertida ou com um penta qualquer coisa: ver o caso genial de Abílio, o australopiteco mais puro sangue do Liceu.
A fase chunga foi a que mais perdurou. Ainda hoje se vê ao sábado à tarde no Continente, muitos recém-adultos que continuam a achar o máximo daquelas botas e continuam a usá-las mesmo com o costumeiro fato de treino de lycra, marca Laika...

Mas o exemplo mais cimeiro diz respeito ao Pachá. Ele que foi menino da Catequese, converteu-se ao Satanismo antes de acabar o Liceu. Deixou crescer o cabelo, deixou os acólitos, deixou a via sacra de Jesus, deixou de ser apresentável. Deixou tudo por ele: pelo Diabo.

Juntou-se aos satânicos e era vê-los em horda, a caminho da Serra, em sextas-feiras de Lua Cheia... Com as suas Jimmmy Doyle, a escalar escarpas rumo ao Inferno...

Deus seja louvado!

domingo, 28 de outubro de 2007

Load "" Enter Play


Este post é dedicado a todos aqueles que:

- nunca tiveram um Atari
- nunca jogaram ao Zorro
- nunca tiveram um Comodore Amiga
- nunca tiveram um Comodore 64
- nunca tiveram um 128 k (com leitor de k7 incluído)
- jogavam o seu 48k numa TV a preto e branco
- em vez de terem um 48k tiveram um Timex 2048 ou um 2068
- esperaram meia hora para o jogo entrar
- jogavam só meia hora porque o transformador aquecia e tinha que ser desligado
- esperavam ansiosamente pelo o desenho do jogo
- pagavam 200$ por jogo no D. Pedro ou no Centro Comercial à frente da Estação
- jogaram ao Chuckie Egg
- jogaram ao Glu Glu
- jogaram ao Bomb Jack
- jogaram ao Tiro à Parede
- jogaram ao Spy Hunter
- jogaram ao Wells Fargo
- jogaram ao Emlyn Hughes (International Soccer)
- jogaram ao Emilio Butraguemo (e não Brutagueno para evitar processos judicias de utilização indevida da imagem)
- jogaram ao Match Point
- jogaram ao Match Day II
- jogaram ao Back to School
- jogaram ao Barbarian
- jogaram ao Paradise Café
- compraram droga no Paradise Café
- violaram velhas (no Paradise Café)
- levaram no cu do Reinaldo com vista para um crucifixo oportunamente colocado na parede (no Paradise Café)
- a porcaria da tecla B deixou deixou de funcionar e, desta forma, a puta deixou de fazer "chamadinhas para Tóquio" e continuou só a comer com o marro na nalga e afins
- bateram píveas na prisão (continua a ser no Paradise Café)
- ouviram das mães "brincas com esse computador e chega bem. Não te vamos comprar um melhor só para jogares. Quando fores para a Universidade compramos um para trabalhares."
- foram e que não foram para a Universidade

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Amor

Pronto foda-se...à minha maneira.

Muitos não conhecem, pelo menos o gajo.
Não me vou alongar muito.
Estava sentado com uma gaja bem boa. Não vou já dizer que era burra que nem um calhau porque se não a história perde metade da piada. - ó RQ fode-te pá...se quiseres falar não fales (esta inventei hoje).
Portanto...estava eu sentado com ela a pensar..epá fazia-te na boa...e estava ela num clássico..epá vou desabafar aqui com o badochinha...
Ela estava apaixonada..mesmo a sério..se não, vejamos..não não me lembro bem como se escreve um bom diálogo...mas cá vai...
- ah e coiso. é isto mesmo.
agora sim
- Ah e coiso, é que eu gosto tanto dele sabes?!...
- Uhm...(até andavas de roda)
- Ele é tão querido
- Pois...(que tetos)
- E o mais engraçado é que temos tantas coisas em comum.
- Isso é muito fixe (não me lembro de ter dito isto..mas devia...coitadinha)...a sério?
- Sim
Preparem-se
- (este tracinho aqui é a continuação da gaja a falar)
- (este também)
- (a seguir é mesmo)
- É que ele gosta tanto de motas e eu também.

Alguém me ajude por favor. Foda-se.
Acham que vale a pena dizer que ele era de Belas e ela andava sempre com outra gaja muito boa lá do liceu?

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Já que o pai se balda, o tio cumpre...

Queria agradecer publicamente ao tio deste blogue o facto de não o deixar morrer. Lembro também que este blogue tem outro tio, que vive longe, é certo, mas que podia mandar uma cartinha de vez em quando.
Por ora, o papá deixa saudades.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Já que o pai deste blog cagou no filho, continuarei a alimentá-lo

"Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazon
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel "

Manu Chao - Clandestino

Um olhar menos atento diria que, a julgar pelos versos acima citados, Manu Chao conhece bem o lugar que hoje vamos falar, o Babilónia. Porquê falar sobre este local de tão má memória para muitos jovens se, para além de ser um sítio que todos querem esquecer que pelo menos uma vez lá entraram, não está localizado no nosso burgo?
A nossa cidade nem sempre foi grande. A nossa necessidade de explorar, alargar horizontes, comprar ténis que não haviam na Andorinha ou no Jota Pimenta, comprar música pirata, ou "aliviar" os bolsos do dinheiro recebido no Natal, fez com que, muitos de nós, tivesse que se deslocar a este mítico centro comercial de uma cidade vizinha.

O Babilónia era (ou é, pois as tradições não se perdem assim de forma tão leviana) um local de catanço puro. Maior que o Colombo, facilmente uma pessoa se perdia lá dentro. Quando penso no despesismo público que foi a construtução de tantas infra-estruturas para a Expo 98, quando já existia neste lugar tantos pavilhões multiculturais, dá-me uma dor tão grande só superada pela a dor sentida por uma colega nossa que trabalhou no Macdonalds do Babilónia, que se queimava diariamente nas mãos e braços até descobrir que havia um instrumento muito útil para virar hambúrgueres, a espátula.

Ir lá significava iniciar uma Cruzada. O combate ao Infiel obdecia a regras duras mas que podiam salvar vidas. A viagem demorava uma eternidade e oferecia inúmeros perigos. Desta forma, a partida tinha que ser sempre feita após o almoço, quando estávamos devidamente alimentados e preparados fisicamente para ter que começar a correr a qualquer momento. No mínimo, tinham que participar na odisseia duas pessoas. Ir sozinho era caminhar antecipadamente para o cadafalso.

Mas nem tudo podia ser mau. No Babilónia existia uma maravilhosa casa de croissants, O Lago, que, quando o dinheiro que ia nas cuecas não tinha sido descoberto pelos índigenas, era um local obrigatório para se retemperar forças para a viagem de regresso. Reza a lenda que há gente que, deste establecimento, "não pode ter razões de queixa!!".

Babilónia... Deixei lá bons amigos... no Babilónia e pelo caminho. Quando soava o alarme era cada um por si, sem nunca olhar para trás... Alguns continuam Missing in Action à espera do seu Coronel Bradock.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Preciso de um herói

"Homens a sério,
isso todas nós sabemos
cada vez há menos,
cada vez há menos...
Mas homens tolos,
mentirosos e banais,
cada vez há mais,
cada vez há mais..."
Cláudisabel (1996/97)

Quando ingressei, no ano Mil Nove e Noventa e Cinco, no liceu da minha terra, era um adolescente sem valores e referências morais. Provinha de um meio mais escuro (literalmente), onde o catanço e a desordem eram reis. Sentia que esta nova fase da minha vida iria moldar a minha personalidade e mostrar-me aquilo que hoje sou, ou aínda poderei vir a ser.
Procurei, de forma isolada, buscar essas referências e valores para me reger. Observava todos os indígenas mas nenhum me mostrava a luz. Um dia, já um pouco desiludido e a ver a esperança a desvanecer observei, no banco entre o campo de futebol e o poli, uma figura que estava rodeado de muitas meninas de 13 anos e que se preparava para deslumbrar no jogo de futebol de inter-turmas que aí teria lugar. Baixo, gordo, louro, voz grossa, ali estava quem procurava. Lentamente aproximei-me, e ao ouví-lo prontamente percebi a química que irradiava. "Esta perna, hoje vai fazer maravilhas!" dizia com grande autoridade e convicção, batendo na perna esquerda, ao mesmo tempo que colocava uma ligadura já muito batida, mas que escondia uma lesão muscular que dava muito estilo. Vestia uma camisola do Liverpool e, ao fazer uma pequena avaliação da sua fisionomia, logo lhe coloquei a alcunha de Steve Mcmanam, ou só Steve para os amigos. Do jogo em questão não reza a história, mas tou certo que a sua perna correspondeu ao seu desejo, ou não, mas também não interessa.
Essas eram as primeiras lições que Steve me dava: Ter confiança em mim mesmo; Não ter noção do rídiculo; Falar em voz grossa e alta para desviarmos as atenções das nossas reais limitações;
Mais tarde, recebi, juntamente com grande parte das pessoas do liceu, uma nova lição. Junto ao Ginásio, observávamos com grande regojizo uma discussão amorosa entre um casal colegial. Ela, motivada pela audiência e fazendo justiça ao seu elevado grau de chunguice, começou a distribuir fruta no seu próximo e quando este achou que já chegava de solha na tromba e que a sua mãe já tinha sido suficientemente ofendida, ameaçou um contra-ataque físico. Nessa altura, Steve, que observava ao longe o desenrolar dos factos, com um timing perfeito, entrou em cena. Afastou o jovem, e, diante todos pregou nova lição: "O que é que combinámos lá na rua? O que é que combinámos? Em Dama não há espiga!". O jovem baixou a cabeça, aceitou o veredicto e continou a encher da sua ex-mais que tudo. Acredito que se essa lição tivesse sido proferida uns tempos antes, talvez Vide não tivesse pontapeado uma colega sua numa aula.

Estava preparado para sair do liceu. Já tinha aprendido muito e agora tinha algo com que me orientar para enfrentar o futuro. Até há pouco tempo não tinha tido noticias de Steve. Soube que ele (por ordem natural das coisas) tinha chegado a Presidente da Associação de Estudantes do Liceu. Fiquei feliz pois outras pessoas podiam, de maneira mais efectiva, escutar e seguir os ensinamentos deste mestre.

Quando pensei que já sabia tudo e nada mais me podia surpreender deparo-me, há uns meses atrás, com Steve numa superficie comercial de Alfragide. Embora visivelmente mais velho, Steve continuava a demonstrar um estilo para muitos de nós inalcançável. Camisa dentro das calças de fazenda, relógio dourado num pulso forte e uns óculos escuros que repousavam num cabelo já escasso mas trabalhado com gel. Não tive coragem de lhe falar, mas mantive-me perto pois sentia que algo de bom podia acontecer. Acompanhado pela sua "dama" (ambos tinham aliança), faziam as compras do mês a uma hora em que já se pensa no descanso merecido. Steve, claramente saturado, é confrontado pela sua senhora de que aínda tem ir comprar produtos de cosmética. Endireita-se, mostra-lhe um sorriso apaixonado, vindo sabe-se lá de onde, e retorquiu: "Tudo o que a minha princesa quiser..."

A sua última lição foi mostrar-me o que pode ser o Amor e a Felicidade. Já não há homens assim...

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

I Shot the Sheriff


Há certos Drs. que quando escrevem livros, artigos ou simples trabalhos de Faculdade gostam de colocar, antes do texto, uma pequena epígrafe. Geralmente é uma citação de alguém famoso da área científica em questão ou de outra bem erudita (e incompreensível). Fica bem. Dá um ar eloquente, intelectual. Acredito que há leitores que condicionam a sua leitura consoante esta situação.
Se é importante uma boa citação, mais aínda será a escolha do autor da mesma. Por exemplo, na área de Geografia é obrigatório Orlando Ribeiro. Nas Ciências Sociais e Humanas pode ser Popper, Gadamer, Braudel, Durkheim, Morin, etc. Na área da Linguística (portuguesa) podem tentar escolher a Edite Estrela, mas para mim não há ninguém melhor que Tei na arte do diálogo e na exploração dos vocábulos escondidos da nossa língua.
Tei é um produto genuíno da No Ending. Cresceu e viveu lá até se fartar das limitações que a escola lhe oferecia. Hoje não importa falar desta personalidade, quero, sim, deixar-vos alguns termos por si usados (e quem sabe criados), para poderem usar em futuros trabalhos. Tou certo que estes serão claramente valorizados. Alguns termos serão de dificil descodificação, mas a sua ambiguidade interpretativa também funciona como um ponto positivo quando citado em epígrafes.

- "Tugauéééééénnnnn, Descomunal, Filha da Puta, Jovem Forte!!"
- "Sim senhora, Tás em Grande!!"
- "Esquííííííllllllllllo!" (isto quando se leva com um bacano em cima das costas sem se estar à espera tem um efeito brutal)
- "A sócia evoluiu buéééé!" (convém alertar que este piropo refere-se a uma pita que tinha 12 anos mas no momento em que foi feito já tinha 14 ou 15, logo uma evolução física, aos olhos de Tei, notável, estando pronta a ser papada)
- "Olh'ó Banderas!!" (tipo, não dar cana)
- "Se tás com pressa vai pá escola, olh'ó caralho!" (parece-me óbvio, se já deu o 2º toque..)
- "Eu ia batendo no chavaaaallll! Sócio, eu ia batendo no chavaaaalll!"

M. - "Bora jogar matrecos"
Tei- "Primeiros!"
M. - "Népia"
Tei - "Então tira-me lá daqui?"
M. - "Então jogas com as pedras."
Tei - Ok, então sou a seguir.."


Ps:
Não sei o que estão a pensar acerca de Tei, mas antes de pensarem algo de mau só vos digo: Tei foi dos sócios do Liceu que mais papou largo. Tenham isto em atenção. Eu tive, antes de fazer este post.

sábado, 15 de setembro de 2007

Nunca tive óculos de sol

Eu já sei muito bem
Aquilo que me convém
Para o Liceu levar
Parapapapapa

Uma corrente dos cães
Um caderno dobrado
Com o Ratinho a surfar
Parapapapapa

Um cabelo com gel
Umas calças aos quadrados
São de arrepiar
Parapapapapa

Uma mochila da moda
Um cigarro na meia
Para a gente fumar
Parapapapapa

Tenho mesmo tudo bom
E também alguns trocos
Para o Condez catar
Parapapapapa

Vou para o Poli UUU
Vou arrasar UUU
Levo a guitarra UUU
Para te conquistar LALALALA

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Eles é que são os Presidentes da Junta

Quer o G., quer o M., dois garbosos moçoilos da cidade, podiam bem ser os líderes da Junta de Freguesia. Passo a explicar porquê. Cada vez que vamos votar - um ritual que temos mantido em comum desde que adquirimos esse direito cívico - nota-se com especial profusão a popularidade e a estima que a população do nosso burgo tem por estes dois rapazes. É um sem número de cumprimentos a que ambos respondem sempre, ainda que com estilos e disposições distintas.
O M. é a popularidade em pessoa. Ouve-se ao longe: "Coméqueé!!!" - e logo um braço hirto saúda a populaça. M. tem um aperto de mão que inspira confiança, que instila amizades, mesmo entre as classes intelectualmente menores, que oscilam entre uma vida triste e soturna ou uma linha mais animada, embora à margem da lei... Tem o seu possível eleitorado nas gerações mais jovens, as que transportam o futuro da cidade...
O G. tem menos paciência. Recolhe o carinho das gerações mais velhas, fruto do convívio que com estes tem mantido no café de seu pai, mas a amargura das conversas dos "velhos" desgosta qualquer um. No entanto, a admiração que a população sente por G. coloca-o em posição cimeira para disputar qualquer lugar das edilidades municipais.

Enquanto a cidade não é município, deixo aqui este desafio: G. e M., concorram à Junta. Vamos fazer uma lista independente e derrotar a escumalha socialista/comunista que tem deixado entregue aos okupas e aos drógádos a nossa esbelta cidade. Primeira medida que desde já sugiro: construção de um coreto, capaz de receber boas bandas filarmónicas ao Domingo à tarde.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Este post não fazia falta nenhuma e não acrescenta nada de útil a este blogue inútil

Olá amiguinhos e amiguinhas!
Não, não é o Ruce que vos fala, o da Sic Radical, mas o vosso amigo JLM, habitante da cidade com a rua mais comprida do mundo (mais comprida mesmo que o Liechenstein, país que dizem que não é mais do que uma rua).

Pois é, voltei de férias. E estar de férias só vale mesmo a pena se estiver longe desta cidade...

Hoje não vou contar mais uma das historietas do costume porque ainda me sinto de férias.

Por isso até qualquer dia.

Hasta. Fica bem. Stay.

sábado, 4 de agosto de 2007

Rapunzel


" A Three Hairs e o Firestarter
foram os dois à azeitona,
a Three Hairs escorregou
e o Firestarter foi-lhe à c...
Badabadum, badum,
badum, badum badero..."


Canção popular (adaptado)

Pode ter sido desta forma que começou uma das mais famosas histórias de amor da nossa terra. Three Hairs e Firestarter figuram no Hall of Fame dos mais ilustres casais que o nosso burgo juntou e fez crescer. Todos eles com a sua excentricidade muito própria (destaca-se Parabólicas e Boca de Cinzeiro, Pinto e Bicos, Tico e Loba, Sr. Ramalho e Velha Grande Quase Cigana que vendiam jornais à porta do Minipreço, entre outros), Three Hairs e Firestarter destacavam-se pelo carinho e puro amor que nutriam um pelo outro, forma de amar que, estranhamente, não conseguiram contagiar a quem neles reparava.

Bombeiro de profissão, Firestarter foi o primeiro trabalhador-estudante que conheci, pois à sua profissão juntava a presença no Liceu local.
Desta forma, honra lhe seja feita.
Tinha um ar sério e duro, um semblante que nunca vi ser alterado, independentemente do seu estado de espírito. Da sua família, com tradição na arte de criar/apagar fogos, pontificava a sua irmã, que, segundo contam, conhecia todas as mangueiras do quartel, tal era o uso que lhes dava. Dizia-se mesmo que "Mangueira nova a estrear, o seu fogo tinha primeiro que apagar". Isto chama-se profissionalismo e competência.

Three Hairs era uma rapariga tímida, de lábios subitamente carnudos que se destacavam numa cabeça onde saltava à vista a quase total ausência capilar (à excepção de 3 cabelos orgulhosamente sós, à la Homer Simpson). A origem de tal caracteristica é, ainda hoje um mistério. As más-linguas preferem pensar que foi Firestarter que incendiou o cabelo da sua mais-que-tudo, no Inverno, numa altura em que há pouco trabalho, e como precisava de dinheiro.. Porém, não será de excluir o facto de Three Hairs residir em QB Zone, a nossa Chernobyl ou Lisnave, e, assim, ter ficado exposta a radiações menos simpáticas.

Este casal era, de facto, um doce. A forma como Firestarter agarrava Three Hairs com medo que ela fugisse era o espelho da sua importancia para ele. Após mamarem mais uma vez na boca, olhavam em redor e contemplavam a inveja e admiração de quem os rodeava. Nos olhos psico de Firestarter conseguia-se ler os seus mais ternurentos pensamentos "Tás a olhar para onde? Vê lá se não queres que te pegue fogo à mochila e às cenas que tens lá dentro (livros) que eu nunca percebi para que serviam?"

Embora sejam um exemplo para quem se inicia no amor e quer ter sucesso com o próximo, uma coisa sempre me fez confusão. Com tanto carinho demonstrado de parte a parte, porquê que nunca vi Firestarter a fazer cafuné à Three Hairs? É sempre tão bom, um cafunézinho... Só de pensar já me estou a enroscar e preparar para "bater choco".

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Adeus tristeza até depois

Adeus Condez até depois
nunca mais me catarás uns troquinhos
lalalala
nunca mais me roubarás uns trocadinhos
adeus irmã do Condez, adeus

Adeus Trocados até depois
foi a droga que te levou ah pois foi
nunca mais pediste trocos na cidade
lalalala
com o teu passo acelerado

Adeus Melão até depois
quantas vezes te vimos
no clube de vídeo da estação
agora és cantor do coração
esqueceste a Gália do Pendão

Adeus tristeza até depois
nesta nossa cidade dos cagalhões
onde há actores, cantores e dois anões
a loba e os lobos no liceu
Adeus Adeus

Todos: LA LA LALALA
LALALA LALALA LALALA

Adeus tristeza até depois
nesta nossa cidade dos cagalhões
onde há actores, cantores e dois anões
a loba e os lobos no liceu
Adeus Adeus

...

Obrigado pessoal. Até Setembro. Como se diz na cidade: Stay!
(Meia-palavra de fica bem=stay cool, cumprimento que no estrangeiro raramente entendem, questionando sempre: "Why stay!?")

quarta-feira, 25 de julho de 2007

No Voice Man

Não, não é nenhuma personagem de banda desenhada, nem se pode dizer com propriedade que é uma personagem da cidade (e os caros leitores já viram como esta espécie está longe de estar em vias de extinção). Esta é também uma história algo oculta mas que já valeu barrigadas e barrigadas de riso. Vamos lá ver se a consigo contar sem distorções narrativas.

Uma vez, ia eu a sair do comboio (acho que já andava na faculdade, não me lembro), aparece-me um sócio que tinha andado comigo no karaté. Era um tipo porreiro, tímido e cuja característica principal era não ter voz. Quer dizer. Tinha voz mas era uma não-voz. Era o que se costuma nomear como um "fala para dentro" (não confundir com "caga para dentro" que são pessoas com outros problemas de garganta).

Assim, este bacano do qual não me lembro agora o nome, apanha-me de surpresa e começa-me a fazer perguntas sobre a minha vida, coisa que eu odeio que estranhos me façam (ele não me era totalmente estranho mas nunca fomos os melhores amigos; acho mesmo que até nunca lutei com ele nos treinos).

Do seu rol infinito de perguntas a que fui respondendo com as minhas esquivas de bruce lee, a última rebentou comigo pois tinha a ver com o que eu ia fazer a seguir. Mau, isso já é demais. Não pensem os caros leitores que o rapaz se iria tornar um stocker, ele queria mesmo apenas converseta. ele sai-se com esta (imaginem agora um som cavo e fundo): "então, vais para a escolinha?..."

Eh pá, mas quem é que este gajo julga que é para me falar assim. Escolinha? Com aquela voz era mesmo um diminutivo que eu estava a espera de ouvir! Para além do mais já não ouvia a palavra escolinha desde que andava na primária e o meu pai dizia-me: "vai-te deitar que amanhã é dia de escolhinha".

Então o No Voice Man julgava que com o meu corpanzil eu ainda andava na escolinha?! Respondi-lhe já não sei o quê. A primeira vez que contei esta história ri-me tanto, tanto, que quase não conseguia chegar ao fim.

Parece estúpido, eu sei. Mas foi assim.

Já agora, que falamos de escola, peço ao Caleja que nos conte a história da expressão: Tás com pressa, então vai pr'a escola!" Vá lá...

terça-feira, 24 de julho de 2007

Ser maneiras

Ser maneiras não é ser alto
É andar curvado e meio de ló
Ter um boné com brincos esfarrapado
E umas botas mêmo Jimmy Dóile

Ser maneiras é parar à noite no Lena
E ter descolorado a franja do cabelo
Ter amigas com dentes podres e equizemas
E um cão feroz ca' ganda cena

E é muita maneirinhus ser assim
Ser feliz na cidade e rei do crime
É ser feio mas muita bonito
pra quem gosta de mim

Que são meia dúzia de gajos
como eu
Meia dúzia de punks rurais
como eu
Que me invejam a DT que eu roubei
E a gaja nojenta que engatei

Ser maneiras não é ser alto...

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Meias-palavras (já foram bués)

Caleja, reconheço que fui infantil com a minha reacção extemporânea.

Mais uns contributos:

Carca - Praia de Carcavelos; local onde passámos diversas tardes da nossa adolescência a enrolar a P. em areia, a jogar à bola, a passar rasteiras, a fazer merdum; Autocarro para Carca - transporte público no qual ainda detenho o recorde de enjoos e vómitos a escorrer acima e abaixo conforme os desníveis das estradas por onde a carreira passava; Local com uma Bola Nivea onde toda a gente se encontrava, e que mais recentemente foi também o ponto de encontro do famoso Arrastão
Saco - Gajo altamente irritante, insuportável e que, das duas uma, ou não tem amigos, ou tem demasiados amigos (todos sacos como ele)
Robby - Gajo porreiro; o seu diminutivo advém não do Capitão Róbi, mas do Robby Fowler, um jogador do Liverpool; mas a história da semelhança com a história do Capitão deve ter rendido alguma coisa, porque na carreira de futebol foi tão longe como o Vide
Coreto - local mítico onde se consomia unicamente amendoins e latas de cerveja, compradas na bomba de gasolina

Bom Fim-de-Semana!

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Ninja Americano IV

JLM lançou um desafio para a divulgação de meias palavras utilizadas, ao longo do tempo, na nossa Rua. Visto não ter sido correspondido no imediato, começou a amuar. Revelou uma faceta de "ninguém me liga", de "coitadinho" sem razão, atitude que sintetizamos como de Touchy.
ex:
"JLM, tás uma beca "touchy" com essa cena de não te terem respondido logo quando pediste? Tipo uma beca bué, não?"

Filéu: vide Filó, fininho
Babudja: entrar em cena de ropante, de forma apressada, sem se estar à espera; fazer algo sem pensar, sem plano prévio e de forma desorganizada; também pode ser alcunha de pessoa que tem a mania que manda em todos e é um funny nada maneiras.

Novos termos para a lista:

- Vide: abreviatura de Vidigal; pessoa alta, que não deve nada ao bom exercicio da práctica de futebol; amigo, companheiro e lider intelectual de um balneário heterogeneo (ex: "Ganda Vide!!!")
- Languí: proveniente de Languída; pessoa disposta a amar de forma selvagem sem critério de selecção; acção de se oferecer ao outro de forma demasiado descarada que nem parece verdade;
(ex: "Esta sócia tá uma beca languí, tá só aqui a bater-coro feio!")
- Sócio/a: pessoa com quem se está a falar ou a falar de; embora o termo possa demonstrar alguma confiança na relação inter-pessoal, isso não é necessariamente obrigatório; qualquer um poderá e deverá ser sócio; (ex: "Sócio!! Orienta aí uns trocos, mais ó caralho?")
- Trocos: quando alguém nos pede, na verdade não significa 10 ou 15 cêntimos, mas sim todo o dinheiro, relógio, telemóvel, calças de marca e ténis que possuimos na altura; (ex: vide supra)
- Grelucho: do latim grelus, grelo; não se refere ao vegetal que acompanha bem uma alheira de mirandela; referente a elementos de sexo oposto que tenham atributos físicos de relevo; (ex: " Como é que é grelucho? Baza baldar para te papar largo?")
- Grelucho largo: idêntico a grelucho, mas desta vez os atributos físicos são aínda mais relevantes; também pode ser o plural de Grelucho;
- Big Orê: pessoa dotada de orelhas maiores do que o permitido por lei;


Mais termos da nossa terra, brevemente, num post perto de si.

O provedor explica

Caro Amigo:

Há no seu post uma certa confusão. Vejamos. As derivações linguísticas a partir do conceito de "lado" são múltiplas e algo complexas. Começa logo pelo seu significado. Lado não é somente o que não está no centro ou que circunda alguma coisa. Lado é no fundo o melhor e o pior de cada um de nós.

Repare, posso dizer: "Aquele fdp deu-me uma pêra de ló", i.e. atingiu-me uma parte mais fraca, como por exemplo, as costelas. Posso também dizer: "Vi a gaja de ló, fdx tem um rabo de sonho". Está a ver. Há sempre aspectos positivos e negativos em abordar o conceito de "ladex".

Quanto às derivações que apresenta: "Lado" deu origem na cidade ao termo "Ladex" (o porquê é uma coisa que este provedor não sabe explicar). de "Ladex" derivámos para "Ló". Mas, no entanto, por vicissitudes várias intrometeu-se o conceito de "Fininho", que como bem explica invoca candura e delicadeza (cagar de fininho, por ex.) "Fininho" deu origem a "Finex". E foi a osmose entre "Finex" e "Ló" é que deu origem a "Filó" e "Filex" ou simplemente "Lex", talvez por influência da série Smallville.

Quanto a "Babudja", não faço puto de ideia, mas creio que é obrigatório pronunciá-la sempre com a língua enrolada. Tem parecenças com "Buja" (Imperial, Média, Cerveja) mas não tem nada a ver.

Sempre ao seu dispor,

JLM

Meias palavras III

Filó - Abreviação de "de fininho". Significa fazer algo com delicadeza ou subtileza.
Ló - Abreviação de Filó
Filex ou de lex - derivações de "de fininho", "filó ou simplesmente "ló"
Ladex - De lado
Babudja (algúem mais qualificado que explique esta por favor)

Meias-palavras (cont.)

Pronto, visto que se borrifaram para o pedido de ajuda, continuo com mais algumas meias-palavras que me lembrei entretanto.

Cói - Abreviatura de Cóino, i.e. Um pouco, Um bocado; o mesmo que uma Beca, um Pitz, um Conhê, um Bécz, um cadinho (expressão mais amaricada)
Baca - um gajo do lado de baixo da cidade de que muitos não se devem lembrar, ia frequentemente ganzado para as aulas; acho que não era abreviatura de nada de importante
Biro - abreviatura de Birolho, Zarolho, Quatrólhos
Pátio - abreviatura de um dos bairros da cidade; dizer Pátio bastava para se saber de que bairro se falava, apesar de haver outros que também teriam pátios
Tati - irmão do Z.; não sei o que abreviava
BSF - sigla de um dos bairros chungas da cidade vizinha. Fomos lá tocar uma vez mas os habitantes não gostavam de hardcore
Taba - abreviatura de Tabaco, um dos melhores guarda-redes que o clube da terra já teve

E já chega.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Meias-palavras

A mania de não se dizer as palavras por inteiro é aqui uma coisa tão normal como o Presidente da República nunca ter visto na cidade mais do que o nosso palácio.

Segue uma lista de meias-palavras (com grande inclinação para o "afrancesar" da sua pronúncia, prova da nossa erudição e craveira intelectual) e o seu desdobramento:
À vontê - à vontade
Baza baldá - Baza baldar (sair de cena)
Câpa - Caparro, físico musculado (usa-se por exemplo ao referir-se as camisolas de lycra que nos anos 90 inundaram o Liceu e a Noite: as camisolas do câpa)
Sâpa - Sapato de fino recorte, apropriado para executivos ou casamentos ou baptizados
Fâta - Fato completo: o sonho de alguns, associado a um cabelo puxado para trás, a rejeição de outros, mais afim de roupas pós-modernas
Grâva - Gravata; parte essencial do Fâta
No - Abreviatura de No Ending Street
Piri - abreviatura do nome de um amigo nosso
Poli - abreviatura do Pavilhão Polivalente do Liceu (vulgo sala de convívio ranhosa)

Caleja ou Àsvezesànoite, podem continuar?

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Esféfia

Experimentem procurar no Google a palavra esféfia.

Então já foram procurar? Vão!

*****


Se já foram, repararam que o conhecido motor de busca não apresentou qualquer resultado. E porquê?

Porque esféfia é uma raridade lexicológica. O que significa? Simples: é uma das palavras da cidade para "queca", o seu equivalente linguístico. Outros mais habilitados poderão explicar de onde surgiu esta expressão.

Por ora o que me interessava era mesmo colocar esta palavra no léxico do Google. E começar desde já a preparar o dossier de candidatura do nosso linguajar a Património da Humanidade! Viva nós! Viva a esféfia!

O Tico e os almoços no Liceu

Desde uma certa altura, para podermos ficar mais tempo na conversa, começámos a almoçar no Liceu. Havia assim um intervalo das aulas em que íamos comprar a senha do almoço ao SASE.

Entrávamos e o Sr. Freire tratava logo o C. por outro nome, assim meio na palhaçada, ao que o C. retorquia: "Como está Sr. Frade...?" Começava bem. Depois dissertávamos sempre imenso sobre a ementa do Liceu e fazíamos diversas piadas com as comidas, sobretudo na altura em que os Professores de Francês decidiram realizar uma semana gastronómica francesa, com "Quiche Matisse" (?!) e tudo.

Depois "brincávamos" sempre um pouco com o Tico, um cão feroz, a pilhas, absolutamente inofensivo a não ser com baínhas de calças. O Tico tinha a sua casota à porta do SASE, com umas fotografias ripadas de uma revista qualquer, coladas com fita-cola à sua humilde casa. O Tico não obedecia a ninguém, nem ao seu dono. Foi talvez o cão mais humilhado, gozado e vilipendiado de que há memória na cidade: teve diversas vezes fita-cola no seu pêlo, o que o deixava doido. Se ele estivesse distraído e lhe batêssemos na casota, desatava logo a ladrar e a rosnar, tipo Pavlov.

A minha memória vai falhando mas de certeza que há outras boas histórias sobre o Tico e também sobre os almoços que animaram o Liceu da cidade, protagonizados por estes vossos humildes escribas.

sábado, 14 de julho de 2007

Clone


Eu sei o que estão a pensar: "Então este sócio mete-me aqui o Sá Fernandes no dia de reflexão das eleições de amanhã para a CML?", "Isto não era um espaço de histórias da No Ending?", "Política, aqui? Isto não durou nem duas semanas sem impurezas...".

Tenham calma, pois vou explicar. Este senhor que está aqui a olhar não é o Sá Fernandes. Esta ilustre personalidade chama-se Bidu. Além de residir na nossa terra é uma das suas mais respeitadas personagens. Bidu, ao contrário de Sá Fernandes, seria incapaz de atrasar o pagamento de 35 milhões de euros por parte da CML ao Sporting Clube de Portugal. Aliás, já o imagino a colocar o dedo indicador e o do meio, da mão direita, na boca, de tão enervado estaria, se um dia soubesse de alguém que estivesse disposto a prejudicar ou a dizer mal do Sporting.

Este cartaz que aqui se apresenta é o original que Bidu fez quando concorreu à eleição de Delegado de Turma no 5º ano. Lembro-me bem, pois se ganhasse seria o seu último mandato (a inspecção para a tropa assim o obrigou). Sá Fernandes, aproveitando o afastamento precoce da politica por parte de Bidu (os ácidos terão sido os principais culpados), bem como as evidentes semelhanças físicas e psíquicas, plagiou este cartaz, adaptando o seu slogan.

Este texto pretende alertar que até este senhor terá os seus telhados de vidro, mas como hoje é dia de reflexão, prefiro relembrar Bidu a subir e a descer esta rua, montado nas suas Jimmy Doll, gritando "SPOOORTINNGGG!", mesmo quando esse não era o tema da conversa.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

"Ai coração de melão, melão, melão, melão.."

Continuando o périplo pela divulgação das personagens da nossa terra, hoje trago aquele que um dia se autodenominou "o fruto mais doce do Verão", o Melão.
Antes de ser um Excesso ou vedeta de Big Brother (Pseudo) Famosos, já era uma figura proeminente desta bela localidade à beira Jamor plantada.
Conhecido pelos seus dotes de dançarino (dançava de forma "chungosa" e lânguida tipo Alex do Mister Gay), era frequente a sua presença nas famosas raves que tinham lugar ao sábado à tarde na E.S.P.A.N. No meio do vário catanço que aí se practicava, consumo de ácidos, "mergulhos" de dançarinos menos experientes (mas não menos populares), emergia Melão, de vestimenta branca (homenagem a Roberto Leal?), a dançar que nem uma louca..
Desde de novo enverdou pela via empresarial. Era dono, com o seu pai, de um bar ("só lá tem bilhares", diziam os habitué) que tinham umas divisões suspeitas no andar de cima. De seu nome "Bar Brazil", possuía uma sugestiva luz vermelha à entrada e dizia um amigo meu que era um bar de "tipas". Nunca lá entrei, mas confío nele pois o seu irmão ia lá jogar bilhar...

Ao enverdar pelo mundo artístico (não ilegal), Melão virou costas às origens. Foram poucas ou nenhuma as referências que fez à sua terra e passado. O mais próximo que teve foi quando se comentou um possivel romance entre si e o Calado. É que Calado jogou no Estrela da A., colectividade de uma cidade vizinha à nossa. À parte disso, só me recordo daquela vez em que o encontramos no programa do Carlos Ribeiro e lhe dissemos de onde éramos. Com os olhos a brilhar, de forma emocionada, só conseguiu retorquir "Pessoal da Gália..."

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Fazer merda

Se havia momento pelo qual todos ansiávamos era o momento de fazer merda. Não me refiro obviamente às necessidades fisiológicas que todos temos: ao nobre acto de defecar. Refiro-me a essa inquietação do espírito que era decidir ou combinar fazer merda. Uma sensação única de adrenalina a que se seguia depois uma fuga desesperada.

Dentro desta designação cabiam coisas tão parvas como atirar pedras aos candeeiros da rua, atirar balões de água às colegas de turma ou, simplesmente, ir para um local público qualquer falar alto, dizer piadas ou gozar com os transeuntes.

A própria expressão conheceu alguma variação: fazer "merdum", fazer "mierda", ou o mais americanizado "do some shit".

O auge do "fazer merda" foi uma noite em que infelizmente não estive presente, denominada "noite da tempestade", que terminou com um dos participantes a mijar de uma varanda... Não está bem. Não está correcto.

Um segundo auge foi quando, numa visita de estudo a Mafra, nos pusemos a beber coca-colas de um armazém cuja porta estava entreaberta. Dessa vez, depois de sermos apanhados, fomos conduzidos até ao Presidente do Directivo e este disse a já famosa frase: "Vocês róbáááááram". Aos gritos. Também não era preciso tanto. Sentimo-nos uns criminosos durante alguns dias.

Hoje já há pouca gente na cidade a fazer merda como nós fizemos. Hoje rouba-se e bate-se logo ou então passa-se as tardes sozinho a jogar playstation. De chungas a nerd's. Foram estes os extremos onde nunca tocámos.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

O Condez

Quem na cidade não teve a infelicidade de se cruzar com esta personagem do Mal?

Era frequente, quando saíamos do Liceu, sermos abordados pelo Condez, sozinho ou acompanhado da sua irmã (?) lésbica (?). Apanhava-nos no corredor junto à Igreja ou então no túnel ao pé da Panificação. Não era muito fixe ser catado, ainda por cima por um drogado de merda, todo queimado do cavalo, sem dentes e com as unhas de um javardo. Mas como escapar? Íamos ali tipo carneirinhos p'rá matança!

Depois começámos a tentar perceber da sua presença logo no portão da saída. E assim íamos pela rua do lado, onde havia um café com um granda cheiro a fritos, ao lado do sítio onde ainda hoje se paga a água. Começámos, a pouco e pouco, a ser mais espertos do que a família Condez, o que também não era muito difícil. Éramos putos e quando se é puto demora-se um bocado a encontrar as soluções para problemas complexos.

O episódio mais hilariante e sádico foi, uma vez, em que o D. tinha ido buscar a chave da sede dos escuteiros. No regresso foi apanhado pelo Condez e teve de lhe dar várias moedas de vinte escudos que tinha consigo. E nós a ver a cena. Como não podíamos fazer nada (quem teria coragem de mexer uma palha), rimos e gozámos com o D, pelo seu descuido ao ser apanhado.

Passado uns tempos, no mesmo local, fomos todos assaltados por um bando de 15 ou 20 chungas oriundos da cidade vizinha. Foi bem feita por termos gozado com o D. Nós merecemos.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Peço desculpa..

É assim malta...a sério...eu não sou racista.
Aliás, a minha mãe conhece uma senhora, que tem uma amiga, que tinha uma empregada, que tinha uma tonalidade de pele um pouco mais acentuada do que o normal. E ela (a morenita) nunca roubou nada.
Portanto, eu não tenho nada contra os pretos.

De autocarro e de mau gosto

Há recordes que não são para bater.
No meu último ano de liceu, que por causa da estupidez foi em 2000, apanhei pelas últimas vezes o autocarro para B.
Eu sei que o medo de represálias faz com que ninguém tenha coragem para abordar o tema da emigração.
Independentemente disso, vou encher o peito de ar e vou dizer o que me vai na alma.
Ok...era 1h15 da manhã, eram 2 brancos e 18 indíviduos de tez mais escura.
Como andas agora rua sem fim?

Já agora...ali mesmo antes do fim da rua sem fim, como quem vai para MA (MA rima com cabrão), não havia uma casa de putas?
Alguém se lembra do nome? Alguém lá esteve?

.........................

- Uma beca de mau gosto, acho que não vou publicar.
- eheheh, assim a puxar pó racista
- Uma beca.

A cena mais linda



Na cidade costumava haver todos os dias a "cena mais linda" ou a "cena mais louca". Isto significava a possibilidade infinita que tínhamos em nos supreender. Atentos como vivíamos, chegávamos sempre ao pé dos amigos com a última novidade na ponta da língua; fosse ela um programa de televisão, uma personagem da cidade ou um acontecimento da rua.

O G. sempre foi o maior especialista neste tipo de vaticínios. Ou não fosse o café do G. um terreno fértil para estes nossos descobrimentos. Uma história que me vem à memória foi um senhor de origem africana que um dia se chegou ao balcão e pediu uma "Cól". O G. sacou de uma coca-cola e ia abri-la quando o Sr. disse: "Não, quéria uma cól".

De repente, fez-se luz. O Sr. queria afinal uma das novidades daquele Verão: uma "Cool Beer", uma cerveja supostamente mais fresca que as outras...

Foi logo classificado como a cena mais louca, e substituída, no dia seguinte, por outra coisa qualquer que agora já não me recordo.

sábado, 7 de julho de 2007

O Profeta

O famoso “Verão Quente” de Mil Nove e Noventa e Três foi dos mais loucos desde daquele eternizado por Brian Adams (até deve ter sido melhor, pelo menos uma beca bué). Na nossa terra, o mesmo foi vivido com grande intensidade, particularmente a partir do momento em que Sousa Cintra “abafou” Paulo Sousa e Pacheco ao eterno rival.

Irado com tamanha afronta, um conterrâneo avermelhado, de seu nome Jonas, logo tratou de divulgar uma possível vingança. Sempre muito bem informado, devido a um suspeito tio jornalista, o nosso Profeta abalou a confiança de qualquer sportinguista com tamanha notícia:

- “Figo, Peixe, Balakov, Valckx, Nelson e Paulo Torres… todos no Benfica!”

Era uma bomba! O Sporting passava a jogar só com 5 jogadores. Paulo Sousa e Pacheco não compensavam tamanha perda. A quem encontrava, Jonas repetia a novidade. Se para uns era um Messias, para outros era um Profeta portador de Desgraça.

Jonas é uma figura cá do burgo. Num período inicial tornou-se conhecido pelo seu cabelo à surfista, pelos óculos muito caros de marca Oakley, que diariamente eram catados e pelo seu blusão laranja “No Name” (mas só vestia esta última indumentária quando ia “fazer bué da merda pa caralho”) Conhecedor das artes de futebol, recordo-me das suas “cuecas” nos adversários e, desta forma, prontamente abandonava o campo com o seu famoso vaticínio “Eu vou-me embora!”. A forma como dizia isto a meio de um jogo, movendo freneticamente, ao mesmo tempo, a mão direita aberta, é daquelas memórias que não quero perder.

Era no futebol onde se sentia melhor. Segundo o próprio chegou a jogar no Benfica, onde, no balneário, tinha cabide e chinelos com o seu nome. Sempre que jogava connosco e falhava um remate (tipo 5 metros ao lado), dizia sempre com um ar moralizador “Se fosse numa baliza de futebol 11, entrava.”

Este era o Jonas, aquele que um dia foi para Braga surfar com o Ratinho e rapou o cabelo como ele, “fizemos todos isto, na minha casa”, contava ele.

Muitas mais histórias tem o Jonas ainda por contar, tal como aqueles que consigo tiveram o orgulho de privar. Hoje, aqui, não importa dizer que do Sporting para o Benfica só foram Marinho, Amaral, Cadete, Dani, Fernando Mendes, nem mesmo que em Braga não se faz surf. O Jonas que eu conheci não merece tais verdades.

Anos após o Verão Quente, eu e um amigo encontrámos o Jonas e tentamo-lo relembrar da sua profecia. Fez um ar de espanto e rematou: “Abri um bar em Massamá, passem lá hoje para beber um copo”. Jonas é assim, uma pessoa que não guarda rancor (ou então é esquizofrénico).

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Primeira retratação

"Admito que nunca tenhas dito, mas pensaste. Mas também nunca seria para o teu bico. Tu tens os dentes todos, não tens mota. Não tens cenas amarelas na ponta dos cabelos, tipo escarra. Não tens camisolas do "câpa". As tuas calças de ganga não foram à lixivia. Não gostas de ouvir Crazy Frog, não tens um carro "tunning maneiras". Basicamente,não tens estilo. (o que, neste caso, não é necessariamente mau.)

ps: mas se gostasses dela..."

Caleja
(copiei dos comentários ao post anterior)

Eu nunca disse isso

Eh pá! Não sei se algum dos amigos alguma vez teve um caderninho com as suas namoradas e/ou conquistas. Do género tabela com linhas e colunas. Linhas para as garinas. Colunas para os níveis de contacto: beijos, sexo, boca, mamocas, etc; que se fosse preenchendo à medida do desenrolar do clima nas colunas, e do tempo e espaço, nas linhas. (Fdx, 'tou feito um teórico do Excel!) Não sei mesmo. Eu posso dizer que não tive.

Mas neste tópico houve uma cena que me marcou. Foi quando os amigos decidiram pôr palavras na minha boca. Todos os que frequentaram o Liceu da cidade se lembrarão da A.R., conhecida por encarnar na opinião pública o nome de um desenho animado começado por Moto e terminado em Rata, com um hífen no meio. Essa rapariga era assaz provocadora e algo exibicionista (mas absolutamente execrável) e eu nunca disse que era a melhor gaja da cidade. Nunca disse mesmo.

Mas nunca me livrei desta fama. De apreciar mulheres provocadoras, ainda que execráveis. Por isso aqui exijo que todos esses difamadores se venham aqui retratar do que me acusaram durante tantos anos.

Tenho dito.
Bom fim-de-semana e bem-haja.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Rolos gigantes

A alma que teve um dia a peregrina ideia de colocar rolos fotográficos gigantes na antiga estação de comboios da cidade nunca imaginou o que outras almas fariam com esse mesmo rolo a horas adiantadas da noite. Eu explico.

Esses rolos fotográficos do tamanho de uma pessoa serviam como uma espécie de posto avançado de uma cadeia de lojas de revelação de fotografias. Estavam colocados em diversos locais públicos. A P. até trabalhou no do Cais Sodré, se a memória não me falha, sítio onde foi escandalosamente assediada... A malta ia lá deixava os rolos para revelar e depois passava lá para levantar as fotografias. Acho que eles não tinham espaço lá dentro para ter uma máquina de revelação ou uma câmara escura (!). Os próprios funcionários mal cabiam lá. Por isso devia haver algum sistema de estafetas, o que pouco importa para a história.

Não sei porquê mas sempre implicámos com esses rolos e ainda mais quando a nossa amiga P. não começou a ser bem tratada nesse ramo do comércio.

Uma noite, depois de chegarmos de Lisboa, ficámos na estação a tagarelar quando alguém pensou: e se puséssemos aquele rolo na linha do comboio? Só para ver o que acontece. Agarrámo-nos ao bicho com unhas e dentes mas ele era pesado (puxa!). Tentámos, tentámos, até que o rolo ficou simplesmente caído. Também era uma ideia um bocado parva e com consequências imprevisíveis...

Hoje os rolos quase acabaram e agora só há ficheiros digitais, mas experimentem pôr um cartão SD gigante ao pé da linha de comboio que logo vêem o que acontece!

(Se alguém entretanto se lembrar de mais pormenores desta noite é favor comentar!)

terça-feira, 3 de julho de 2007

Michael Jordan

Eu sei que vocês sabem do que eu vou falar... Muito tempo antes de existirem "basofes" ridículos que se tratam por sócios, esse termo já era comum em vários bairros da cidade. Havia então um sócio louro, baixinho e gordinho, de seu nome M. que andava sempre com uma bola de básquete. O M. cumprimentava todas as raparigas com dois beijos, o que para certas donzelas era um "nojo", pois nunca haviam cumprimentado dessa forma um rapaz com trissomia 21. Aos rapazes ele dava um "passóbem maneirus" e simpático.

Venho falar dele porque o M. parava sempre junto dos campo de básquete, mesmo quando havia aulas pois ele não era realmente aluno do liceu.

Um dia, estando no campo contrário a uma das tabelas do campo que ficava entre os balneários e o pavilhão de ciências (mais ou menos no mesmo sítio onde levei a joelhada da S.), o M. lançou a sua bola de costas voltadas para o cesto. E não é que a bola entrou! Ouviu-se logo, de repente, um urro que estremeceu a cidade: "MICHAELH LHORDAN". Era o grande M. a festejar o seu feito.

Sempre que me lembro disso, penso na hipocrisia desta sociedade e no quanto desprezamos aqueles que são diferentes de nós.

(Esta frase soou mesmo bem!)

"Falta o dinheiro de um bilhete. Quem é que aínda não pagou?"


Corria o longínquo ano de Mil Nove e Oitenta e Oito (ou Nove), quando vi, pela primeira vez, Frank Dux a lutar completamente cego (o que a porcaria de um comprimido moído não faz à vista) num torneio mortal de Kumite.
Esta recordação, que aínda hoje marca a minha vida e ajudou a moldar a minha personalidade, só foi possível graças ao cinema que hoje já não existe, D. Pedro - King.
Este local de encontro, cultura, tertúlia, catanço e de iniciação ao "mamar na boca", morreu. Hoje não há cinema na nossa terra. Já não há um sítio onde se possa ver todo o lixo que o cinema produz (até lá vi filmes portugueses e dobrados em português!! tava mesmo agarrado...).
Estava inserido num centro comercial, onde pontificavam grandes superficies e comerciantes. Ainda sinto o cheiro dos Croissants do Lago e ouço as histórias "dos putos" do Perereirasss.

A morte foi lenta e dolorosa. Nunca mais lá voltei. Uma boa parte da cidade morreu ali.

Cumpriu a sua função pedagógica e social. Se me questionarem se sei"mamar na boca", direi que sim, pois foi ali que tudo aprendi.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Dias maus

Eu como tenho a certeza que muitas das baboseiras que aqui vamos escrevendo serão dificilmente compreendidas por alguém que não viveu neste burgo, passo a contar uma história de fácil absorção pelos nossos caros leitores.

Uma manhã, tínhamos acabado de nos vestirmos no balneário do Liceu, vigiado por A. - que podia bem passar por ser um pedófilo se já se conhecesse na altura esta "expressão" -, quando, ao sair para o campo de básquete e ainda a apertar os atacadores, sou brutalmente agredido no osso que medeia o cu e os tomátez com uma joelhada da "vaca" da S. Perceberam porque referia que este post se compreendia bem...

Acometido por uma fúria incontrolável, alço-lhe um banano com a minha perna direita, o que a derrubou. Se não fosse esse grande mister do 12º ano a afastar-me do "ringue" podia não ter sobrado S. para ninguém.

Claro que nunca mais falei com ela e, sempre que a vejo, lembro-me dessa manhã, em que o mister Carlão me salvou de ter cometido um homícidio altamente qualificado.

São estas histórias que falam da vida real que fazem deste um blogue honesto, ao contrário de outros que tais. Vocês sabem do que estou a falar...

Agora sim!

Agora que isto se animou com os meus novos dois comparsas, tenho a certeza que este blogue vai durar, pelo menos, tanto quanto durou o reinado do Z., um nigga grande e mau, que dominou os destinos da cidade durante vários anos, antes de entrar no negócio do alterne, o que o fez borrifar-se para as sovas que distribuía amiúde.

Eu como tive sempre um pendor para baixar a bolinha e não me armar em esperto (por outras palavras, sou um desgraçado de um cobardolas; quem não seria perante aquele monte de músculos!), fui um sortudo. A primeira vez que o Z. me dirigiu a palavra fiz-lhe a vontade: deixei-o espreitar a sede dos escuteiros. Desde aí não houve vez que nos cruzássemos em que ele não me cumprimentasse com as suas mãos de aço. E eu continuava o meu caminho feliz e seguro. E era bom viver nesta cidade em paz.

Há quem diga que casou com uma.


Pois é. O Maradona de Belas não se lembra de muita coisa mas, apesar da má memória, há imagens que nos ficam para sempre.
O amor de uma pessoa para com um conjunto de panelas e Tupperware's é algo de extraordinário, algo que ficou dentro de mim até aos dias de hoje.
Percebo agora o porquê das gajas dizerem que sou frio e egoísta. Se todos nós déssemos 1/10 do que aquele rapaz dava às canecas e tachinhos, a vossa cidade, o mundo e quiçá a China seriam hoje diferentes.
Talvez o mundo hoje fosse dominado por pensamentos positivos.

A omnipresença desse amor pelas ruas da vossa cidade era constatada em frente a um estóico café que fica perto da estação.
Sim, ali mesmo em frente ao saudoso e nojento zarabatana. Era ali que de vez em quando se presenciava o amor.
E como diria um grande amigo..."Passo-me com estes gajos a gozar com os defs..."

domingo, 1 de julho de 2007

Parabólicas

Falar de futebol nesta bela cidade é falar dos grandes jogadores que emergiram na Escola P.A.N. Há quem pense que o mais famoso foi o Dani ou o Steve McManaman (havemos de voltar a este último) mas eu discordo totalmente. Houve um que, sem muito alarido, de mansinho (ou "de fininho", ou "de filéu"), encantava todos os pisos de alcatrão ou cimento que encontrava. A forma como "fazia amor" com a bola era um regalo para todos os amantes do desporto rei. O seu nome é (ou era, pois os génios tornam-se mitos) Parabólicas. O nosso Guardiola. Desculpem, o Guardiola era o Parabólicas do Barcelona.
Os seus passes sem olhar (perpetuado como "no look pass") eram uma obra-prima sem preço nos dias de hoje. Como todos os grandes desta localidade tinha uma namorada linda, que criava inveja a todos e todas por onde passava. "O casal perfeito", falavam as gentes da nossa terra. A forma proeminente dos queixos de ambos realçavam aínda mais a simetria de Parabólicas com a sua mais-que-tudo, comummente conhecida por Boca de Cinzeiro.
Este meu primeiro texto vai para esta fígura da nossa terra. Uma pequena e merecida memória que não fará apagar o erro de ainda não lhe ter prestado a devida homenagem.

Onde andas Parabólicas? Onde está o perfume do teu futebol?
Sinceramente, não quero saber. Prefiro recordar aquele dia em que olhaste para mim, mas passaste a bola a outro...


Dérbi

Não sei se haverá mais sportinguistas ou mais benfiquistas na minha cidade. Deve haver mais benfiquistas, pelo menos a avaliar pela proporção nacional. Se quiséssemos ir depressa, diria que a representar os benfiquistas temos o Sr. Bu, J. de seu nome, um homem com cujas histórias podemos escrever durante mais de um mês este blogue. a representar os sportinguistas (e não conhecendo um tão doente como o Bu), diria que o Sr. C., dono de uma conhecida cervejaria de seu nome L. V., é o mais emblemático.

Isto tudo porque ouvi dizer que vamos ter um novo comparsa a escrever, de seu nome "Octávio Machado", aka Caleja, ex-treinador do Sporting e tão bom conhecedor desta cidade. Agurdamos pela sua chegada.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

"É só eztílooo!

Estilo no Liceu era sinónimo de uma pessoa. Cabelo arrepanhado para trás, com bastante unto, de tons alourados (seria até mesmo cenoura - a minha memória argh!). Era alto, forte e espadaúdo (gordo - não, não sou eu!). Lembro-me de que envergava por vezes um blusão de cabedal como ninguém ousava usar no Liceu. Tinha uma bigode e pêra, algo que apenas o B. e o Zorro tinham, se bem me lembro. (O Zorro será um post...)

Era aluno ou professor? A dúvida assaltou-nos muitas vezes. Mas tivemos sucessivas confirmações de que era aluno. Apesar de muito amigo de alguns professores.

Quanto entrava no Polivalente, vulgo sala de convívio (dedicarei um post ao "Póli" um dia destes), gritava-se da nossa mesa "É só eztílooo!", com bastante entoação e prolongando a última vogal o suficiente para aquele urro parecer ridículo. Todos viravam a cara mas ele nunca ligava. Claro que a minha parvoíce teria de vir ao de cima. E um dia decidi gritar "É só eztílooo!" quando no Póli só estava o nosso grupo e... ele!

Má onda!

Essa expressão acabou por derivar para "Ésquilooo" mas essa história não a sei contar como deve ser. Preciso dos meus comparsas e eles não aparecem!

Drógádos

Eu avisei que a memória me falhava...

Disse no post anterior que o C. tinha gritado Hévi-Métales, mas acho que foi Drógádo. Já não sei bem... Ai esta memória...

Mas no caso pouco interessa. Era quase a mesma coisa. Quem ouvia Iron Maiden à tarde, dava no cavalo à noite, e por aí adiante. Tenho visto que alguns destes métales/drógádos conseguiram reabilitar-se. Deve ter sido por terem saído da minha rua, porque nunca mais os vi lá.

Um deles trabalha numa cervejaria da cidade e agora até usa óculos.

Da cidade

Eh, pá...! Nem sei bem por onde começar.

A cidade em si não é feia. Não é. Tem um palácio que muitas gostavam de ter. Tem um aqueduto centenário. Daí já ter água há muito tempo. Ao contrário de outras cidades que no tempo daquele aqueduto ainda nem tinham água potável. Claro que há coisas que não abonam a seu favor. Em primeiro lugar, os prédios. Cheios de inscrições do PREC ("Vota APU"; "Reagan Go Home"; etc), castanhos por fora e com cheiro a bafio por dentro, com abundantes marquises (moda do final do século XX). É feio, não é bonito...

A cidade começa mais ou menos na minha rua. A rua dos drogados. Mas eu não sou. É a rua dos Hévi-Métales, como um dia gritou da minha janela, o meu amigo C. Depois passa-se a estação dos comboios, agora renovada, mas onde antes um gajo se arriscava a levar com uma composição (nome pomposo) e a sujar a farpela antes de chegar ao liceu. Havia uma rede horrenda (propriamente chamada galinheiro). Essa rede separava a minha cidade do monte vizinho. Era roubos a toda a hora e ratazanas a dar com pau. Quando se entrava nesse caminho, era o ver se te avias. Correr era a melhor solução para não apanhar os meninos maus que nos roubavam os trocos que nós próprios já havíamos ripado da carteira da mãe.

Depois continuo a falar da cidade, porque a seguir à estação já estamos quase na "No Ending". Mas antes da "No" ainda falta uma beca. Ou um pitz, como diria o L.

(Ainda continuo à procura de comparsas. E ainda não pus de parte a ideia de que este blogue, se calhar, não devia durar mais que o tempo que o cavalo demorou a matar mais de metade da malta nova da minha rua .)

terça-feira, 26 de junho de 2007

"Vão p'ró Bola de Ouro..."

Ando a ver se arranjo mais comparsas que contem aqui as suas histórias. Decerto saberão mais episódios do que eu, que a memória já me vai falhando.

Aproveito também para dizer que daremos alguma proeminência à linguagem deste micro-cosmos. Palavras e expressões como "sâpa-fâta-grâva", "andar de ló", "e o raizen snaite, stôra?", "ir de fininho" ou "tás com pressa, vai p'rá escola" serão explicadas com detalhe.

Se estes comparsas não quiserem participar, não sei se este blogue dura mais do que um episódio do seinfeld.

Era uma vez

Numa terra sem lei e sem governo. Onde pouca coisa fazia sentido...

Foram anos de observação e de crítica. Anos de pura antropologia social e cultural. Seremos capazes de falar de tanta gente?

Do L. e das suas gambinhas? Do "Pior" que víamos à sexta à noite no Lena? Do Dominik e do seu Bat-Mobile? Da Senhora das Fotocópias do Liceu? Do Morgadinho que era lá porteiro? Do Condez que morreu com Sida e da sua irmã que era lésbica? Do velho da Sapataria Andorinha que um dia me tenteu vender umas sapatilhas sintéticas, saídas do baú dos anos 70?

Seremos capazes? Provavelmente não. São só recordações que quero guardar. Porque nunca tive um diário. Porque não me quero esquecer.