domingo, 28 de junho de 2009

A Mão de um "Maneiras": subsídios para a construção de um quadro tipológico (2ª parte)

Nota de editor: O post que seria dividido em dois será, possivelmente, tripartido. Problemas editoriais para facilitar a leitura, aliados ao aumento da informação produzida pelo autor levaram à tomada desta decisão. Apresentam-se, desta forma, as mais sinceras desculpas, conscientes que mesmas, bem como as razões acima descritas, serão aceites e compreendidas.


O estilo que o "Maneiras" adopta na vida e na relação com outros elementos da mesma espécie, independentemente da fase de evolução que integram, está muito relacionado com o posicionamento da mão face ao restante corpo. Vejamos:

Ao longo deste espaço temporal de cerca de 10 anos, conclui-se que a Mão do “Maneiras” é tensa e começa por ser um pouco fechada em si mesma, crescendo ou não, consoante a elevação que o seu dono tem perante a sociedade que o rodeia. Isto é, a mão fechada sem nada lá dentro é sinónimo de pouco estilo e estatuto social. Uma mão cheia de sinais exteriores de riqueza é, proporcionalmente ao valor desses sinais, um sinal que existe estilo e que se caminha para o topo da pirâmide.

As minhas observações relatam a evolução da seguinte forma:

- aos 17 anos, o "Maneiras" começa a abrir a mão. Lentamente, esta sai das calças (não estou a dizer que existe um abandono do “bilhar de bolso”, antes pelo contrário) ficando, somente, o polegar preso nesse mesmo bolso. O "Maneiras" que é um jovem do liceu e que tem noção que não sairá de lá tão cedo, sabe que, nesse Verão onde fará a transição para a maioridade, tem que ir trabalhar. Desta forma, a mão que se começa a soltar e, embora sempre tensa, começa a criar espaço para o que brevemente irá albergar.

- o primeiro trabalho permite a compra de uma carteira que já não pode ser das Dunas ou aquela comprada pela avó no Arraial do Dia do Benfiquista ou na excursão a Fátima (onde a avó comprou uma tábua de cortar queijo, em cortiça com um azulejo com o Galo de Barcelos, “para o teu enxoval, meu filho”). A nova carteira tem pele e espaço para muito dinheiro (o trabalho de Verão…). À noite, quando se junta aos seus amigos no café mais central de Queluz, o “Maneiras” já usa a Mão direita para transportar a carteira. A sua mão, em forma de semi-concha, permite defender a nova aquisição da ladroagem, mas também (o mais importante de tudo), mostrar aos seus amigos a sua marca e volume (o que está lá dentro não interessa, embora os cafés fiquem, dessa vez, por sua conta. E a amêndoa amarga para aquele pita languí que quer começar a beber nesse Verão).

- neste estado primário há, por vezes, uma nuance entre os “Maneiras”. Essa dissemelhança só existe se um dos seres fuma ou não. O que não fuma mantém-se idêntico ao descrito em cima. Já o que fuma, tem que abrir ligeiramente a mão para colocar o maço de tabaco. Neste caso, a ponta dos dedos segura a carteira que tem agora, como companhia, um maço de Marlboro ou SG Ventil colocado bem próximo da palma da mão. Este último ponto, embora definido como algo exótico dentro da evolução do “Maneiras”, não é de menos relevância no seu processo evolutivo. Este, que consegue já deter duas matérias do seu “pacote cultural”, terá muito mais facilidade em se adaptar à próxima fase. Por outro lado, o que não fuma verá na sua mão uma certa resistência à assimilação de novos componentes artefactuais, embora crono-culturalmente enquadrados com a sua espécie e estado evolutivo. O facto de ultrapassar este obstáculo de maneira tranquila e (muito importante!) sem que os outros “Maneiras” se apercebam do mal-estar causado por uma nova realidade, não me permitiu criar uma nomenclatura especial que distinguisse o “Maneiras fumador com 17 anos” do “Maneiras não fumador com 17 anos”. Não há, no estado actual dos conhecimentos, dados que me levem a crer que são subespécies diferentes. A classificação de nuance parece-me a mais apropriada. No entanto, não é um capítulo fechado. Não duvido que, noutros meios ambientais, com o respectivo condicionamento socio-cultural, o “Maneiras” não possa sofrer uma pressão tão grande que leve a alterar a forma da Mão, permitindo-lhe outro rumo evolutivo distinto do aqui caracterizado e demonstrado. Questiono, por exemplo, que efeito teria, nesta fase, a colocação de um pacote de tabaco de enrolar (em vez do maço), ao que se acrescentaria o dos filtros (sei que podem vir no meio do tabaco, mas e a máquina para enrolar?), numa mão que tem a carteira como base de sustentação? O pacote do tabaco de enrolar é maior, em termos de área e não em peso, do que uma carteira do “Maneiras”. Isto levaria a um alterar de padrões mentais enfiados no subconsciente, que iriam condicionar o crescimento do Cérebro e da Mão, dirigindo estas matérias para finalidades desconhecidas e de difícil apreensão cientifica.

Concluindo, com a fase primária da evolução do “Maneiras” inicia-se uma hierarquização e ordenamento logístico do espaço manual a ocupar pelas diversas “jóias” que preenchem a sua vida. Há a carteira e há (ou não) o tabaco. A pirâmide constrói-se e o “Maneiras” cresce socialmente.

Literalmente, “vida na palma de uma mão”.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A Mão de um "Maneiras": subsídios para a construção de um quadro tipológico (1ª parte)

O Homo Queluzensis tem características invulgares, de grande raridade, que o tornam distinto dentro de uma sociedade cada vez mais virada para a banalização e uniformidade física e mental. Felizmente, ao contrário de outras espécies, está longe da sua extinção. O seu estudo metodologicamente correcto obedecerá a múltiplas leituras transdisciplinares, abarcando diversas áreas do saber, quer no campo das ciências exactas, quer no campo das ciências sociais. Devido à minha formação académica, aliado ao objecto de estudo que hoje se pretende caracterizar, a Mão da espécie masculina, optou-se por começar a reflectir sobre a evolução desta, partindo de observações meramente antropológicas (com mais ênfase no campo social do que no campo biológico).
Na elaboração desta análise, não recorri a nenhum autor famoso em especial, nem mesmo a antropólogos locais. Nestes últimos, mesmo que quisesse não o podia fazer. É que a última vez que soube do Zé do É, tinha o nome de Jamon Boca Amarilla e estava como guerrilheiro na América do Sul, depois de lá ter ido procurar nomes de novas bandas rock para colocar no seu Caderno de Campo. Diz quem sabe que o nome Papoila o atraiu para zonas inacessíveis às policias militares e governamentais, pensando, na sua cândida inocência de quem é cientista, que o nome Papoila podia ser uma cover do hino de Luis Piçarra, cantado por uma banda colombiana. Caiu na armadilha…
Desta forma, este estudo tem como base empírica a pura e simples observação de vários elementos da espécie em questão e do seu comportamento social ao longo do seu espaço de vida, compreendido entre os 17 e os 30 anos de idade, quando integra a fase de evolução denominada de “Maneiras”.

ps: este post virá, em princípio, subdividido em dois. Espero ser breve na colocação da 2ª parte, pois não quero defraudar as duas pessoas que ainda passam neste local (esperando que nenhuma delas seja o antigo Zé do É ou um outro elemento do seu Cartel).