sábado, 22 de março de 2008

Não negues à partida uma peça teatral que desconheces

Durante o árduo caminho que nos levaria a completar o 11º ano de escolaridade, a nossa professora de português, comummente conhecida como Bimba, no intuito de desenvolver o nosso gosto pela leitura e estudo, resolveu levar-nos ao teatro.
"Fixe, maneiras!", pensámos todos em conjunto. "Um dia sem aulas, uma visita de estudo sem ser ao Palácio local, e, acima de tudo, ir para os bancos de trás do autocarro fazer bué da merda pa caralho e mamar na boca de umas sócias todas languí, que ficam aínda mais malucas nestas ocasiões. E também curtimos teatro, como é óbvio".
No entanto, logo à partida, começámos a ficar privados dos nossos intentos. A prof. de Gaia (e a sua famosa lenda que nunca conseguiu contar) avisou-nos que o teatro era à tarde (logo havia aulas de manhã),que íamos de comboio pois o evento tinha lugar em Benfica e que a peça era de Gil Vicente, o "Auto da Índia". Que merda do caralho, logo eu que julgava que ia ver a última performance de Ruy de Carvalho (ia-se reformar) ao D. Maria ou uma cena experimental sobre "As Brumas de Avalon", com bruxas e espadas, mais ó caralho!
Após uma viagem que não merece relato, pois só 5 de nós foram catados no comboio e só a 3 colegas nossas é que lhes apalparam as mamas (também não me lembro de tantas mamas assim, merecedoras de tal afecto, embora houvesse quem tivesse por 3 ou 4 e que não vinha do planeta Marte nem do Total Recall), chegamos ao teatro.
Tava meia casa, pois tinha faltado uma turma da Damaia (que pena, tinha sido tão bom este choque intercultural, gente boa, com certeza). Já encostados nas cadeiras e preparados para bater choco durante 1 hora (menos os teacher's pet, que estavam munidos de blocos e folhazinhas com cheiros para tirar pertinentes notas), aproxima-se uma senhora que nos diz: "Obrigado por terem vindo. Este grupo de teatro é muito especial e merece toda a nossa atenção e respeito. Espero que gostem do espectáculo e lembrem-se, TODOS DIFERENTES, TODOS IGUAIS."
Ficamos todos a matutar nas últimas palavras da sócia. "Que quererá dizer com aquilo? Queres ver que vai haver actores de diversas raças e credos? Por mim, na boa. Auto da Índia é uma rábula à época das Descobertas, deve ter actores a fazerem de africanos e indianos. Parece-me bem, trouxeram actores com tez parecida e assim poupam na rolha queimada." Ficamos de sobreaviso, mas nunca à espera do que iria suceder...
Dá-se inicio à peça, está escuro e não se vê nada (não é piada racista, as luzes estavam apagadas), há o som alto de "Like a Virgin" e um bacano a fazer de narrador e falar uma cena de difícil descodificação. Aí pensei: "Estes gajos são bons, o bacano está a falar em latim e tudo, como a personagem do Joane, o Parvo, no Auto da Barca do Inferno. Não estou a perceber um cu disto, mas é muito à frente".
De repente acendem-se as luzes e surgem os primeiros actores... A meia casa encolhe-se, os nossos olhos ficam vidrados e ninguém pestaneja. Estavamos perante uma peça de teatro protagonizada pela companhia teatral CRINABEL!! "Que ganda vergonha! Bimba do caralho! E agora? Será que posso rir das piadas ou pensam que vou tar a gozar? Aquilo não era latim, pois não?", foram alguns dos pensamentos reinantes na minha cabeça desconexa e envergonhada.
A peça decorreu sem problemas de maior e fomos o público mais respeitador que alguma vez existiu. Tão respeitador que, no fim, alguém da produção teve que começar a bater palmas, tirando um peso dos nossos ombros, soltando-nos para uma estrondosa ovação de pé aos interpretes, que bem a mereçaram. Passámos de um público de uma parada militar chinesa a um público tipo "Fiel ou Infiel".

Que cena marada... As horas que se seguiram foram de constante revolta contra a Bimba e contra os outros profs que se colavam as estas iniciativas, que sabiam onde íamos e ao que íamos, sem nunca nos terem avisado. Se a outra senhora não tivesse feito aquele aviso prévio eu ia pensar que era para os apanhados.
No regresso ninguém conseguiu mamar na boca nem fazer No Nameeeess...

quinta-feira, 20 de março de 2008

Frases de uma (parte da) vida - 2º acto

O Caleja não tem deixado este blogue e a nossa cidade ficarem mal na fotografia da blogosfera. Muito lhe agradeço. Não esperava outra coisa dele. Já o Maradona tem andado ausente, ainda que, na minha humilde opinião, com uma qualidade acima da média, às vezes à noite...

Acrescento mais umas expressões para este compêndio do léxico que forma o nosso húmus cultural (fosgasse, sou um intelectual!).

Cá vai:

- "Vais comer isso tudo?" ou "Já não te apetece mais?"
- "Fodasse, a omolete tem buéda sal"
- "Meat is murder" (com galinhas e facas em papel quadriculado)
- "Tás com pressa, vai para a escola!"
- "A tua mãe, tá lá?"
- "Vou mamar bué na boca"
- "Então, vais prá escolinha?"
- "Ela bebeu whisky"
- "A P. abdicou..."
- "Calma, G. Ninguém te roubou nada!"
- "Vocês comigo encheeem!"
- "Desire...Desire..."
- "Vou pedir à Sónia um livro da última prateleira"
- "Fafanculo! - Olhe que eu sei italiano!"
- "Zézinho, comeu espinafres, foi?"
- (Dentro de uma loja) "Granda pivete... Foste tu?"
- "É preciso é cuspir!"
- "O problema do _ é pasta de dentes..."
- "Ainda tens o cigarro escondido na meia?"
- "Zéééééééééé, Josééééééééééé!!!"

Um abraço a todos.
Stay!

quarta-feira, 19 de março de 2008

Frases de uma (parte da) vida - 1º acto (não confundir com X-Acto)

Ao longo da nossa vida vamos sendo confrontados com ideais, leis e frases que, de forma mais profunda, se vão prolongando no nosso imaginário e condicionando o nosso modus vivendi.
"Nessa pequena aldeia" (uma pequena homenagem a Antony Carreer) de onde este espaço é inspirado, muitas foram as frases que, surgindo do nada, triunfaram nas nossas memórias, tornando-se, nos dias de hoje, Verdades Universais que, qualquer Ser inteligente tem que adoptar para sobreviver nesta selva urbana feita de mises en scène totalmente descabidas e só perceptíveis aos olhos de uma cada vez mais escassa Adília Lopes.
O rol que, em seguida, será exposto não terá mencionado o autor original da correspondente citação. Esta situação é um claro exemplo da pluridade e multiculturidade que estas expressões atingiram. São de todos e para todos...

- "La bagage est la ba";
- "C'est parisible"
- "I was born in a big bad gueto. Sou condenado só porque sou um grande preto!"
- "Fizemos bué da merda pa caralho..."
- "No Nameeeeeeeee, No Nameeeeeeeeee....."
- "Porto, Porto, Porto, Porto!!"
- "Bateste-me? Vou chamar o Galvão!"
- " Nemecek, Nemecek, Nemecek!"
- "O quê? Ficaste porco?"
- "Também sempre foste o mesmo paneleiro de sempre, nestas merdas"
- "Tou todo fodido..."
- "Só mais um bagaço.."
- "Uma cueca, uma cabra e vou-me embora"
- "Então, viste o jogo da NBA ontem à noite?"
- "Paula! Não vai ser essa bolacha..."
- "Tu! Tu não tens razão de queixa!!"
- "O Guita era amigo, até foi lanchar lá a casa.."
- "3 pontos pó Saquíto!"
- "Drinking sucks"
- "Ganda mongo!"
- "És o pior!"
- "Vai comer um cagalhão cheio da sangue"
- "Já sou vice!!"
- "O chinês dá-me a volta ao estômago"
- "Vai levar a Susana a casa..."
- "M., tens a certeza?"
- "Então Sérgio, uma senha para o almoço?"
- "Claro sr. Frade"
- "Mas o meu nome não é Frade?"
- "Pois, e o meu não é Sérgio"
- "Forty years!!"
- "Gastam o dinheiro todo no Bola d'Ouro e depois não têm para as fotocópias..."
- "Fotocópias... Olha fotocópias.."
- "Walking away to Pendão?"
- "À migri migri mi, nada me catchenga. À migri migri mu, nada me catchenga"
- "BSF BSF, fica n'Amadora, BSF BSF, fica n'Amadora"


Esta é uma amostra que espero ver completa por aqueles que aínda deitam um olho a este local já tão moribundo como o antigo passeio junto à rede, que ligava a estação dos caminhos de ferro à parte alta do nosso feudo.