quinta-feira, 12 de julho de 2007

Fazer merda

Se havia momento pelo qual todos ansiávamos era o momento de fazer merda. Não me refiro obviamente às necessidades fisiológicas que todos temos: ao nobre acto de defecar. Refiro-me a essa inquietação do espírito que era decidir ou combinar fazer merda. Uma sensação única de adrenalina a que se seguia depois uma fuga desesperada.

Dentro desta designação cabiam coisas tão parvas como atirar pedras aos candeeiros da rua, atirar balões de água às colegas de turma ou, simplesmente, ir para um local público qualquer falar alto, dizer piadas ou gozar com os transeuntes.

A própria expressão conheceu alguma variação: fazer "merdum", fazer "mierda", ou o mais americanizado "do some shit".

O auge do "fazer merda" foi uma noite em que infelizmente não estive presente, denominada "noite da tempestade", que terminou com um dos participantes a mijar de uma varanda... Não está bem. Não está correcto.

Um segundo auge foi quando, numa visita de estudo a Mafra, nos pusemos a beber coca-colas de um armazém cuja porta estava entreaberta. Dessa vez, depois de sermos apanhados, fomos conduzidos até ao Presidente do Directivo e este disse a já famosa frase: "Vocês róbáááááram". Aos gritos. Também não era preciso tanto. Sentimo-nos uns criminosos durante alguns dias.

Hoje já há pouca gente na cidade a fazer merda como nós fizemos. Hoje rouba-se e bate-se logo ou então passa-se as tardes sozinho a jogar playstation. De chungas a nerd's. Foram estes os extremos onde nunca tocámos.

2 comentários:

Caleja disse...

No tempo de escola, o inicio de uma jornada "de fazer merdum para c..." começava sempre com um aliciante e provocador "Baza baldar?".

"Mocidade, mocidade...
porque fugiste de mim?
Hoje vivo de saudade,
É triste vivermos sem mocidade
Sentirmos que é o princípio do fim..."

António Calvário

Caleja disse...

A "noite da tempestade" nunca existiu, é um mito urbano. É como aquela sócia (namorada de um filho de um presidente de uma colectividade desportiva da cidade) que practicava o prazer oral aos rapazes atrás do Pavilhão de Educação Física. Todos falavam, mas nunca ninguém viu, ou sentiu tal situação.