quarta-feira, 13 de agosto de 2008

"You know what Ol'Jack Burton always says in a time like this..."

A década de 90 nem sempre foi um sucesso no que diz respeito à nossa evolução socio-cultural, bem como à superação físico-motora que o desenvolvimento da sociedade impunha ao nosso corpo.
Num exercício rápido, das coisas boas dessa década, podemos recordar a dobragem para brasileiro dos Soldados da Fortuna (Esquadrão Classe-A), a existência da linha telefónica 10 10 10, onde podíamos ganhar montes de prémios se soubessemos que o Corcunda mais famoso era de Notre Dame (e não dos Jerónimos), e, também, que Michael Thomas, além de ter "big balls", era fã de Robert Niro.
Por outro lado, das coisas más, tentamos esquecer que o Aramis nos desenhos animados do D'artagnan era, na realidade, uma gaja boa ou, de forma mais penosa, que qualquer cigano podia ter umas calças El Charro ou Uniform, sem que por isso tivesse dado 15 contos (na moeda antiga), como qualquer outro otário de diferente etnia ou credo não residente no Bairro da Fonte.
Mas, para mim, houve outro facto que marcou de forma mais negativa a última década do século passado, os Limpos.
Os Limpos foram o movimento mais estúpido e destruídor de capacidades motoras de jovens dos anos 90. Basicamente (para quem só chegou agora ao Mundo ou andou agrilhoado numa cave com 30 gatos durante 15 anos, tendo agora atrofia de movimentos e claras dificuldades em lidar com luz natural ou em articular palavras), os Limpos consistiam numa ameaça constante por parte do sócio mais parvo da rua que, ao simular que nos ia bater (mas sem tocar, pois se isso acontecesse insurgia no acto penalizante contra si próprio denominado Sujos), fazia com que nos retraíssemos ou tivéssemos um acto defensivo, vulgo reflexo. Posto isto, o autor emítia o grunho "Limpos" e enfiava, sem sabermos de onde vinha, no nosso peito, de forma binária, os 5 dedos juntos de uma mão com uma força tal que aínda hoje há pessoas com "cancaro" no peito por causa disso.
Este acto, além dos efeitos negativos imediatos, facultava, no corpo e psique humana, danos colaterais irreparáveis. Atrás de um Limpos vinha outro. Quando surgia o acto de castigo acima descrito, o sócio tinha por hábito realizar um novo Limpos. Consequência imediata: castigo a dobrar. Além disso, começaram a surgir novas variantes de Limpos: Babalus, Cabongues e outros nomes derivados de uma série horrorosa japonesa que tinha como personagem principal um gajo que deu origem a um jogo para nerds sem vida social, o Sodoku.
Foram momentos de stress, privação de liberdades e alegria. Vivia-se em constante alerta e numa contracção muscular altamente perigosa. A qualquer momento podia vir uma ameaça. Começámos a petrificar, a ser blocos de gelo sem expressão. Os reflexos naturais de um corpo são desvaneceram-se lentamente. Aos poucos, ficámos sem reacção a movimentos ofensivos à nossa integridade física. Eu que era um gajo que praticava artes marciais nunca mais ganhei um combate, pois pensava sempre que os ataques que sofria podiam ser um Limpos. Isto para não falar nas lesões na cabeça e os ossos partidos. Tempos difíceis...

Até que um dia alguém, muito zangado, que já tinha perdido familiares e amigos e farto de ver outros a ficarem, irremediavelmente, perdidos para a vida devido às lesões crónicas, decidiu sensibilizar o dono da brincadeira que, passado uns dias publicou o seguinte Édito: "NÃO HÁ LIMPOS EM 97!"

Agora sim, os que ficaram poderiam, finalmente, viver felizes para sempre.... pelo menos até surgir a Piada da Mãe.

Nesta nostalgia nostálgica recordo aqueles que, por desconhecimento das regras, ficaram por debaixo de carros e comboios. Infelizes, não sabiam que a única regra que nos defendia era que não havia Limpos com objectos...

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