Preciso de um herói
isso todas nós sabemos
cada vez há menos,
cada vez há menos...
Mas homens tolos,
mentirosos e banais,
cada vez há mais,
cada vez há mais..."
Quando ingressei, no ano Mil Nove e Noventa e Cinco, no liceu da minha terra, era um adolescente sem valores e referências morais. Provinha de um meio mais escuro (literalmente), onde o catanço e a desordem eram reis. Sentia que esta nova fase da minha vida iria moldar a minha personalidade e mostrar-me aquilo que hoje sou, ou aínda poderei vir a ser.
Procurei, de forma isolada, buscar essas referências e valores para me reger. Observava todos os indígenas mas nenhum me mostrava a luz. Um dia, já um pouco desiludido e a ver a esperança a desvanecer observei, no banco entre o campo de futebol e o poli, uma figura que estava rodeado de muitas meninas de 13 anos e que se preparava para deslumbrar no jogo de futebol de inter-turmas que aí teria lugar. Baixo, gordo, louro, voz grossa, ali estava quem procurava. Lentamente aproximei-me, e ao ouví-lo prontamente percebi a química que irradiava. "Esta perna, hoje vai fazer maravilhas!" dizia com grande autoridade e convicção, batendo na perna esquerda, ao mesmo tempo que colocava uma ligadura já muito batida, mas que escondia uma lesão muscular que dava muito estilo. Vestia uma camisola do Liverpool e, ao fazer uma pequena avaliação da sua fisionomia, logo lhe coloquei a alcunha de Steve Mcmanam, ou só Steve para os amigos. Do jogo em questão não reza a história, mas tou certo que a sua perna correspondeu ao seu desejo, ou não, mas também não interessa.
Essas eram as primeiras lições que Steve me dava: Ter confiança em mim mesmo; Não ter noção do rídiculo; Falar em voz grossa e alta para desviarmos as atenções das nossas reais limitações;
Mais tarde, recebi, juntamente com grande parte das pessoas do liceu, uma nova lição. Junto ao Ginásio, observávamos com grande regojizo uma discussão amorosa entre um casal colegial. Ela, motivada pela audiência e fazendo justiça ao seu elevado grau de chunguice, começou a distribuir fruta no seu próximo e quando este achou que já chegava de solha na tromba e que a sua mãe já tinha sido suficientemente ofendida, ameaçou um contra-ataque físico. Nessa altura, Steve, que observava ao longe o desenrolar dos factos, com um timing perfeito, entrou em cena. Afastou o jovem, e, diante todos pregou nova lição: "O que é que combinámos lá na rua? O que é que combinámos? Em Dama não há espiga!". O jovem baixou a cabeça, aceitou o veredicto e continou a encher da sua ex-mais que tudo. Acredito que se essa lição tivesse sido proferida uns tempos antes, talvez Vide não tivesse pontapeado uma colega sua numa aula.
Estava preparado para sair do liceu. Já tinha aprendido muito e agora tinha algo com que me orientar para enfrentar o futuro. Até há pouco tempo não tinha tido noticias de Steve. Soube que ele (por ordem natural das coisas) tinha chegado a Presidente da Associação de Estudantes do Liceu. Fiquei feliz pois outras pessoas podiam, de maneira mais efectiva, escutar e seguir os ensinamentos deste mestre.
Quando pensei que já sabia tudo e nada mais me podia surpreender deparo-me, há uns meses atrás, com Steve numa superficie comercial de Alfragide. Embora visivelmente mais velho, Steve continuava a demonstrar um estilo para muitos de nós inalcançável. Camisa dentro das calças de fazenda, relógio dourado num pulso forte e uns óculos escuros que repousavam num cabelo já escasso mas trabalhado com gel. Não tive coragem de lhe falar, mas mantive-me perto pois sentia que algo de bom podia acontecer. Acompanhado pela sua "dama" (ambos tinham aliança), faziam as compras do mês a uma hora em que já se pensa no descanso merecido. Steve, claramente saturado, é confrontado pela sua senhora de que aínda tem ir comprar produtos de cosmética. Endireita-se, mostra-lhe um sorriso apaixonado, vindo sabe-se lá de onde, e retorquiu: "Tudo o que a minha princesa quiser..."
A sua última lição foi mostrar-me o que pode ser o Amor e a Felicidade. Já não há homens assim...
cada vez há menos,
cada vez há menos...
Mas homens tolos,
mentirosos e banais,
cada vez há mais,
cada vez há mais..."
Cláudisabel (1996/97)
Quando ingressei, no ano Mil Nove e Noventa e Cinco, no liceu da minha terra, era um adolescente sem valores e referências morais. Provinha de um meio mais escuro (literalmente), onde o catanço e a desordem eram reis. Sentia que esta nova fase da minha vida iria moldar a minha personalidade e mostrar-me aquilo que hoje sou, ou aínda poderei vir a ser.
Procurei, de forma isolada, buscar essas referências e valores para me reger. Observava todos os indígenas mas nenhum me mostrava a luz. Um dia, já um pouco desiludido e a ver a esperança a desvanecer observei, no banco entre o campo de futebol e o poli, uma figura que estava rodeado de muitas meninas de 13 anos e que se preparava para deslumbrar no jogo de futebol de inter-turmas que aí teria lugar. Baixo, gordo, louro, voz grossa, ali estava quem procurava. Lentamente aproximei-me, e ao ouví-lo prontamente percebi a química que irradiava. "Esta perna, hoje vai fazer maravilhas!" dizia com grande autoridade e convicção, batendo na perna esquerda, ao mesmo tempo que colocava uma ligadura já muito batida, mas que escondia uma lesão muscular que dava muito estilo. Vestia uma camisola do Liverpool e, ao fazer uma pequena avaliação da sua fisionomia, logo lhe coloquei a alcunha de Steve Mcmanam, ou só Steve para os amigos. Do jogo em questão não reza a história, mas tou certo que a sua perna correspondeu ao seu desejo, ou não, mas também não interessa.
Essas eram as primeiras lições que Steve me dava: Ter confiança em mim mesmo; Não ter noção do rídiculo; Falar em voz grossa e alta para desviarmos as atenções das nossas reais limitações;
Mais tarde, recebi, juntamente com grande parte das pessoas do liceu, uma nova lição. Junto ao Ginásio, observávamos com grande regojizo uma discussão amorosa entre um casal colegial. Ela, motivada pela audiência e fazendo justiça ao seu elevado grau de chunguice, começou a distribuir fruta no seu próximo e quando este achou que já chegava de solha na tromba e que a sua mãe já tinha sido suficientemente ofendida, ameaçou um contra-ataque físico. Nessa altura, Steve, que observava ao longe o desenrolar dos factos, com um timing perfeito, entrou em cena. Afastou o jovem, e, diante todos pregou nova lição: "O que é que combinámos lá na rua? O que é que combinámos? Em Dama não há espiga!". O jovem baixou a cabeça, aceitou o veredicto e continou a encher da sua ex-mais que tudo. Acredito que se essa lição tivesse sido proferida uns tempos antes, talvez Vide não tivesse pontapeado uma colega sua numa aula.
Estava preparado para sair do liceu. Já tinha aprendido muito e agora tinha algo com que me orientar para enfrentar o futuro. Até há pouco tempo não tinha tido noticias de Steve. Soube que ele (por ordem natural das coisas) tinha chegado a Presidente da Associação de Estudantes do Liceu. Fiquei feliz pois outras pessoas podiam, de maneira mais efectiva, escutar e seguir os ensinamentos deste mestre.
Quando pensei que já sabia tudo e nada mais me podia surpreender deparo-me, há uns meses atrás, com Steve numa superficie comercial de Alfragide. Embora visivelmente mais velho, Steve continuava a demonstrar um estilo para muitos de nós inalcançável. Camisa dentro das calças de fazenda, relógio dourado num pulso forte e uns óculos escuros que repousavam num cabelo já escasso mas trabalhado com gel. Não tive coragem de lhe falar, mas mantive-me perto pois sentia que algo de bom podia acontecer. Acompanhado pela sua "dama" (ambos tinham aliança), faziam as compras do mês a uma hora em que já se pensa no descanso merecido. Steve, claramente saturado, é confrontado pela sua senhora de que aínda tem ir comprar produtos de cosmética. Endireita-se, mostra-lhe um sorriso apaixonado, vindo sabe-se lá de onde, e retorquiu: "Tudo o que a minha princesa quiser..."
A sua última lição foi mostrar-me o que pode ser o Amor e a Felicidade. Já não há homens assim...
1 comentário:
Definitavamente já não há homens assim. Impunha-se um registo sobre este grande Homem da cidade.
Este último episódio, que não conhecia, demonstra uma sapiência e uma arte de amar fora do normal. Um must.
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