O famoso “Verão Quente” de Mil Nove e Noventa e Três foi dos mais loucos desde daquele eternizado por Brian Adams (até deve ter sido melhor, pelo menos uma beca bué). Na nossa terra, o mesmo foi vivido com grande intensidade, particularmente a partir do momento em que Sousa Cintra “abafou” Paulo Sousa e Pacheco ao eterno rival.
Irado com tamanha afronta, um conterrâneo avermelhado, de seu nome Jonas, logo tratou de divulgar uma possível vingança. Sempre muito bem informado, devido a um suspeito tio jornalista, o nosso Profeta abalou a confiança de qualquer sportinguista com tamanha notícia:
- “Figo, Peixe, Balakov, Valckx, Nelson e Paulo Torres… todos no Benfica!”
Era uma bomba! O Sporting passava a jogar só com 5 jogadores. Paulo Sousa e Pacheco não compensavam tamanha perda. A quem encontrava, Jonas repetia a novidade. Se para uns era um Messias, para outros era um Profeta portador de Desgraça.
Jonas é uma figura cá do burgo. Num período inicial tornou-se conhecido pelo seu cabelo à surfista, pelos óculos muito caros de marca Oakley, que diariamente eram catados e pelo seu blusão laranja “No Name” (mas só vestia esta última indumentária quando ia “fazer bué da merda pa caralho”) Conhecedor das artes de futebol, recordo-me das suas “cuecas” nos adversários e, desta forma, prontamente abandonava o campo com o seu famoso vaticínio “Eu vou-me embora!”. A forma como dizia isto a meio de um jogo, movendo freneticamente, ao mesmo tempo, a mão direita aberta, é daquelas memórias que não quero perder.
Era no futebol onde se sentia melhor. Segundo o próprio chegou a jogar no Benfica, onde, no balneário, tinha cabide e chinelos com o seu nome. Sempre que jogava connosco e falhava um remate (tipo 5 metros ao lado), dizia sempre com um ar moralizador “Se fosse numa baliza de futebol 11, entrava.”
Este era o Jonas, aquele que um dia foi para Braga surfar com o Ratinho e rapou o cabelo como ele, “fizemos todos isto, na minha casa”, contava ele.
Muitas mais histórias tem o Jonas ainda por contar, tal como aqueles que consigo tiveram o orgulho de privar. Hoje, aqui, não importa dizer que do Sporting para o Benfica só foram Marinho, Amaral, Cadete, Dani, Fernando Mendes, nem mesmo que em Braga não se faz surf. O Jonas que eu conheci não merece tais verdades.
Anos após o Verão Quente, eu e um amigo encontrámos o Jonas e tentamo-lo relembrar da sua profecia. Fez um ar de espanto e rematou: “Abri um bar em Massamá, passem lá hoje para beber um copo”. Jonas é assim, uma pessoa que não guarda rancor (ou então é esquizofrénico).
Sem comentários:
Enviar um comentário